sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Iggy Pop ao vivo em NYC



 Comprei este CD por R$ 5,90, isso mesmo, menos de seis pila! Faz mais de dez anos que era facilmente encontrado nos balaios da Multisom. Sempre gostei da sonoridade, a qualidade da gravação é ótima. Mas a banda que toca com ele então é sensacional! Andy McCoy do Hanoi Rocks, banda hard glam parceira do Guns N’ Roses no começo, na guitarra; Paul Garristo do Psychedelic Furs na bateria; Alvin Gibbs do UK Subs no baixo, mandando uma grooveira e Seamus Beaghen do Madness no teclado.  Esse show registrado no clássico Ritz em Nova York em 86 fazia parte da turnê de volta do “street walkin’ cheetah”, que antes havia lançado o fracassado Zombie Birdhouse, este produzido por Chris Stein, ex guitarrista do Blondie, mas que agora atacava com o ótimo Blah Blah Blah, com produção mais uma vez de David Bowie e composições em parceria deste e de Steve Jones, ex Sex Pistols. Talvez tenha faltado uma ou outra faixa pra ficar ainda melhor, tal qual The Passenger, Raw Power etc, mas é um baita disco ao vivo, que capturou com qualidade a performance única e visceral desse anjo do inferno chamado James Osterberg, o deus maldito Iggy Pop. 

Lançamento da King Biscuit Flower Hour Records, em 2000
Abaixo o vídeo da faixa Hide Away. No Youtube tem o show inteiro.


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Capitão Rodrigo - A Saga De Um Homem Comum

  Nessa terça feira, dia 10 de novembro, a banda apresentou o seu show intitulado A Saga De Um Homem Comum, no teatro Carlos Urbim na 61ª Feira do Livro de Porto Alegre, para um público que lotou, viu e ouviu entusiasmado a ópera rock da banda porto-alegrense. 

 A banda é bastante conhecida por suas performances teatrais, vinculadas a cenários e a figurinos deslumbrantes que ilustram o show dessa trupe de artistas, misturando o teatro e o rock para criticar com bom humor as mazelas de nossa sociedade. 

 Sob a produção do grupo Mosaico Cultural, que é formado pelos próprios músicos e demais parceiros, a Capitão Rodrigo abrange para além do gênero que sustenta a alcunha do espetáculo tal como uma ópera rock, trabalhando muito sobre um groove funkeado -  o clássico soul ou r&b - que já são marcas registradas do estilo sonoro da banda, porém vão mais longe, inserindo outros ritmos brasileiros oriundos do nordeste e demais regiões, ainda com os acordes milongueiros de outrora, mas com passagens que remetem ao rap, ou até mesmo ao funk carioca, além de momentos em que a música passa a ter uma cor e uma atmosfera infantil, criando alusões ao que é contado no palco de forma linear, a saga de Pompeu Homero; sua infância dura, suas descobertas adolescentes, sua revolta infernal, a ascensão na mídia e sua final e fatídica queda. 
 O show faz críticas satíricas e contundentes ao sistema político, às corruptas instituições religiosas e à mídia sensacionalista, com releituras instrumentais de antigos temas da banda, além de novas versões de algumas de suas canções que somam de maneira literal a saga de Pompeu, numa narrativa performática cuja prende de imediato a atenção do público, com projeções no palco e ainda, com alguns dos integrantes tocando e cantando em meio à plateia, esta que impressiona-se com a energia carismática do grupo. A Capitão Rodrigo ainda se permite a não ter pudor ou papas na língua quando critica de forma bem humorada setores poderosos de nossa sociedade, proferindo alguns poucos palavrões, tão comuns e corriqueiros, mas que ainda chocam parte da público. Das inúmeras referências possivelmente percebidas, é notável a figura do Diabo que entra em cena, esta que fala num sotaque que lembra entidades religiosas de matrizes africanas, algo talvez entre um Preto Velho fanho e a Pomba Gira, porém trajado como um cangaceiro que ostenta grandes aspas; uma figura que, tal como as demais, passeia entre o cômico e o trágico, condenando, por fim, a personagem principal após as barbaridades que esta cometeu, que incluem o assassinato dos próprios membros da banda, numa ótima passagem do show onde as projeções no palco ilustram o sangue derramado pela fúria justiceira de Pompeu Homero. 

 Formada por Rafa Cambará, que canta na voz principal e toca acordeon; Ju Rossi, que além de também cantar, toca saxofone, dança e interage em meio ao público por vários momentos; Nando Rossa na guitarra e vocais; Cuba Cambará no teclado e pandeiro; Gilberto Oliveira no baixo e na direção musical e Eduardo Schuler na bateria, toda a banda atua caracterizada e canta em coro A Saga De Um Homem Comum, onde ainda os músicos Nando Cambará e Gilberto Oliveira trocam seus instrumentos durante o show, permitindo que o então baixista execute magníficos solos de guitarra, num ótimo espetáculo sonoro e visual que faz com que o público se divirta e reflita criticamente sobre a sociedade contemporânea, enchendo os olhos de maneira teatral, e os ouvidos com boa música.

http://www.capitaorodrigo.com.br/



terça-feira, 13 de outubro de 2015

Sepé Tiaraju - Romance dos Sete Povos das Missões


Dedico este livro a todas as minorias raciais que nesta e noutras regiões do globo lutam por sua dignidade e sobrevivência. Alcy Cheuiche


  Não creio ser apto para fazer uma resenha verdadeira desta obra, posso dizer apenas que é magnífica, histórica e emocionante, contando desde os tenros dias da personagem narradora em sua cidade natal, Amsterdã, toda a aventura cruzando o Atlântico ainda com 15 anos de idade na companhia fiel do exímio timoneiro, a personagem chamada Bel Ami, que viria a ser também um dos heróis da história; a chegada na América, com a passagem trágica pela Ilha de Páscoa; a conversão à doutrina jesuíta, e por fim, a viagem ao sul da América, desde o Peru, passando por Buenos Aires até o destino final, as Missões do Rio Uruguai. Mas o emocionante mesmo é a altivez e a bravura da personagem que dá título ao livro, fazendo umedecer os olhos do leitor mais atento e sensível nos momentos em que mais intensa se torna a narrativa, tal como quando o jovem índio guarani é eleito pelo povo o novo Corregedor de São Miguel, sendo o seu discurso perante os demais líderes um dos grandes momentos da obra; também quando do seu resgate em Buenos Aires, onde graças ao timoneiro Bel Ami, o padre Miguel, ou Michael, salva o seu pupilo da morte certa pela forca nas mãos dos “civilizados” da cidade portuária, sendo tal operação fatal para o velho marujo, que tanto ensinou ao jesuíta. Mas ainda mais emoção é alçada à imaginação do leitor quando, por fim, se travam as sangrentas batalhas dos povos livres das Missões contra os exércitos de Espanha e Portugal, que almejavam invadir e destruir as cidades à esquerda do rio Uruguai, expulsar o seu povo e afanar suas riquezas, após a assinatura do maldito Tratado de Madrid em 1750, e na figura de Sepé Tiaraju os índios resistem bravamente, até que não era mais possível enfrentar com lanças e flechas os mosquetes e canhões europeus, tombando então o grande líder, talvez o maior, o mais bravo e justo dos líderes desta terra que se orgulha pelos motivos errados.
 Lembro o discurso emocionado do autor e professor Alcy Cheuiche na Feira do Livro de Porto Alegre, relatando a tragédia; o absurdo desumano que foi o massacre proferido pelas tropas aliadas ao povo das Missões, que viveu livre por mais de cem anos em sua sociedade socialista e cristã, lendo o trecho final do livro no evento segurando as lágrimas, no momento em que tomba o grande herói guarani e símbolo da resistência. Ao menos hoje, mais de duzentos anos após a sua morte, a história de Sepé Tiaraju é recontada, envolta em lendas e fatos, através da literatura e da arte em geral, mas como ainda não se produziu um filme de longa metragem digno de tamanha saga heroica? Enfim, é nosso dever garantir que essa história nunca seja esquecida e que se valorize os verdadeiros heróis desta sociedade construída sobre o sangue indígena.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Queen - 40 anos de A Night At Opera e show em Porto Alegre



 Após quatro décadas do maior êxito da história da banda, o Queen, acompanhado do vocalista Adam Lambert, retorna ao Brasil para o Rock In Rio, e ainda pintou por Porto Alegre também, fazendo um show memorável, repleto dos maiores clássicos, grande performance e todo o glamour que é marca registrada da banda, mesmo após a morte de seu frontman e principal compositor, o gênio Freddy Mercury.
 A Night At Opera, lançado em 21 de novembro de 75 na Europa e em 02 de dezembro nos EUA, foi produzido sob enorme pressão, pois o Queen era uma banda subestimada nos anos 70, e a gravadora cobrava um hit de sucesso que tomasse as rádios e desse o retorno financeiro necessário para cobrir os altos valores gastos deste e também dos primeiros discos, que sempre foram complexos e expansivos, recheados de harmonias e arranjos muito elaborados, o que exigia bastante tempo e dinheiro para as suas produções. O Queen se encontrava numa sinuca de bico, ou o novo disco seria um sucesso ou estariam na rua! Já que agora assinavam com uma nova gravadora e assumiam as diretrizes empresariais da banda. O que aconteceu foi que, tal como nos seus antecessores, o trabalho manteve o alto nível técnico e audacioso, com composições tão complexas quanto distintas umas das outras, sendo ainda hoje um dos grandes discos de rock em que mais gêneros musicais são explorados, desde o country até a ópera, e ainda, a banda manteve-se firme em relação à sua fidelidade artística, não recuando quando a agora nova gravadora, a Swan Song Records, não entendeu; não acreditava que a faixa Bohemian Rhapsody poderia ser a música de trabalho a ser enviada às rádios. Mesmo numa época em que o progressivo imperava no mercado, a música era tão diferente que poucos apostavam no seu sucesso, o que de fato ocorreu, tanto que hoje ainda falamos disso. Então com o sucesso absoluto de Bohemian Rhapsody, o Queen finalmente saiu de vez do status de promessa para o de consagração, e o disco vendeu milhões, graças às incessantes transmissões da faixa de quase seis minutos nas rádios pelo mundo. Mas aqui é que se vale este texto, pois A Night At Opera não apenas é consagrado graças a esse clássico, mas também por ser um dos discos mais geniais, ecléticos e audaciosos da história da música.
  A faixa de abertura, Death on Two Legs, com seu inicio marcado pelo piano e guitarra, já dá a cara da banda que seria conhecida mundialmente, seguindo a linha dos outros discos com um hard rock glam de levadas típicas e com abundância em harmonias vocais, como sempre também ocorria nas músicas do Queen, porém o detalhe nessa faixa é a letra que, mesmo sob algumas metáforas e indiretas, reflete abertamente a cobrança financeira da antiga gravadora e da insatisfação da banda com o seu ex empresário, virando uma resposta em forma de música, amarga e triunfante: “Are you satisfied? Do you feel like suicide? I think you should, is your conscience all right? Does it plague you at night? Do you feel good?”, nitidamente  uma provocação, ainda mais por tal faixa abrir o disco, o que até gerou um processo pelo ex empresário, mas que acabou arquivado. A segunda faixa possui nos seus 1m58 segundos uma levada que lembra os antigos cabarés europeus, com um aspecto teatral, um pouco exagerado e pomposo e com um leve efeito nos vocais, atuando como um interlúdio no disco, a sua letra reflete a semana de um cara “comum”, que sai pra ver a lua nas terças, nas quartas pedala sua bicicleta, nas sextas pinta telas no Louvre e que fica bastante preguiçoso no domingo à tarde... Uma letra sem grandes peculiaridades em se tratando de Queen. Na sequência temos a faixa I’m In Love With My Car, escrita e cantada pelo baterista Roger Taylor, um hard rock simples que fala do amor pelos carros, tendo Taylor se inspirado por um dos técnicos da banda que possuía um Triumph TR4 e que dizia ser o amor de sua vida, o Queen adentra os anos 80 mantendo essa faixa em seu repertório, sendo o momento em que o baterista se destaca pela sua técnica apurada aplicada à percussão e aos vocais simultaneamente, o que sempre o faz durante os backing vocals, mas nessa assumindo o vocal principal. A quarta faixa é a segunda de maior êxito comercial do disco na época, You’re My Best Friend tem como tema principal a levada de um piano elétrico, o que gerou uma pequena discórdia na banda, pois a composição do baixista John Deacon teve resistência por parte de Mercury para a execução de tal instrumento, o que fez com que o próprio Deacon gravasse a parte do piano, deixando apenas os vocais para Mercury. Mais tarde nos shows da banda, Mercury executava a faixa em um piano convencional, como pode ser ouvido no álbum ao vivo Live Killers, de 79. A letra é dedicada à esposa de Deacon, sendo até hoje uma das mais belas canções da história da banda, com uma melodia pop, porém bela e emotiva, um dos grandes clássicos eternos desse álbum. Na sequência temos a música 39, que soa algo como um country rock progressivo, cheia das agudas harmonias vocais de Taylor, levada principalmente pelo violão e com a primeira aparição no disco de Brian May como cantor principal.
Ao vivo nos EUA em 77
Escrita pelo guitarrista, a música tem uma letra intrigante e controversa, pois de acordo com o próprio, ela faz referência aos astronautas no espaço, suas histórias, nostalgia e retorno a terra, sendo hoje ele mesmo um astrônomo referencial, porém popularmente fala-se que a letra remete aos anos duros da Segunda Guerra Mundial. Fato é que, tanto pensando de uma forma ou de outra, a letra soa bela e poética. Destaque para a curta, porém ótima performance de George Michael nessa faixa junto ao próprio Queen em 92, no tributo a Freddy Mercury, morto em 91, organizado pela banda e contando com vários cantores renomados do rock e do pop mundial, George Michael ainda faz um discurso falando do preconceito sobre os homossexuais e a AIDS, que assolava o mundo na época e que vitimou o próprio Freddy Mercury, cantando também a faixa Somebody to Love, do disco A Day At Races, no grande evento que contou ainda com Elton John, David Bowie, Axl Rose, Slash, Roger Daltrey, entre outros. A sexta faixa do álbum, Sweet Lady, remete novamente ao hard rock glam habitual da década, pesada, lembrando imediatamente nomes como Slade e Kiss, música esta que é seguida por Seaside Rendezvou, outra no trabalho que leva diretamente ao clima de cabaré, com inúmeras referências à boemia francesa e ao seu glamour, a curiosidade é que a faixa possui solos vocais que imitam instrumentos de sopro executados por Taylor e Mercury, obtendo esse efeito distorcendo as vozes no estúdio. A oitava obra do disco é imensa e complexa, The Prophet’s Song é algo épico e audaciosamente grandioso, trabalho típico dos nomes do rock progressivo da época, megalômana com perfeccionismo. A faixa possui 8m20 segundos de arranjos complexos de cordas e vocais, uma melodia que transcorre obscura e um peso que complementa o clima mítico da música. Ela abre com uma introdução instrumental tocada por May no koto, um exótico instrumento de cordas japonês, criando uma atmosfera de fato profética e misteriosa, seguida pela voz de Mercury cantando as palavras: “Oh! Oh! People of the earth, listen to the warning, the seer he said”, iniciando essa obra que pouco perde em complexidade para Bohemian Rhapsody, contando com o vocal de Mercury ao seu estilo operístico, ainda uma sessão de voz accapella ao meio da música, criando camadas de vozes que se intercalam de maneira psicodélica e orquestral, seguida pela guitarra de May que também faz uso de camadas em stereo, criado um efeito epicamente assombroso e fantástico, retornando ao peso e finalizando novamente com o tema de abertura ao koto. A letra escrita por Brian May faz jus a todo esse clima épico e progressivo, alertando sobre um profeta que declararia o fim dos tempos através de um sonho que teve o protagonista da narrativa, implorando à humanidade que ouça as palavras do profeta de sua memória e que corram por suas vidas, se tornando ele mesmo um pregador da profecia vista em seu sonho: “I dreamed I saw on a moonlit stair, spreading his hand to the multitude there, a man who cried for a love gone stale, and ice cold hearts of charity bare”, criando uma obra poderosa e assustadora. May teria sido inspirado por um sonho que ele mesmo teve durante o período em que esteve doente com hepatite em 74, vítima de altas febres e alucinações. Colada na sequência temos outro grande hit do disco, que se proliferou ainda mais após os grandes concertos da banda nos anos 80, onde Freddy Mercury cantava junto apenas de Brian May ao violão de 12 cordas e do público, as palavras amorosas e melancólicas de Love Of My Life. A música também conta com uma alta produção, recheada de linhas de harpa e piano, as características partes solo da guitarra e harmonias complexas de vocais. Sua letra, apesar de melancólica, trataria de uma homenagem à Mary Austin, ex namorada de Mercury e sua fiel amiga até os seus últimos dias de vida, sendo hoje umas das mais belas e conhecidas canções da banda.  A décima faixa é outra composição de Brian May em que este atua como cantor principal, Good Company é inspirada pela vida de seu pai, um homem que é aconselhado pelo pai a ter uma boa família e a cuidar dela, mas que acaba solitário na velhice. A música é puxada pelo ukelele, tendo uma levada que lembra as antigas bandas de jazz de salão, mas com as camadas de guitarra características de May.


Muito já se falou da próxima faixa, a mais complexa composição de Freddy Mercury, que é absolutamente uma das maiores obras da história do rock, Bohemian Rhapsody é única, nunca havia sido feita uma música tal como esta, que logo ao ser lançada como single e, iniciando também de certa forma, em conjunto com outros,  a era dos videoclipes, explodiu nas rádios ao redor do mundo todo, com o seu vídeo alavancado ainda mais o sucesso da faixa, que inicia com as clássicas camadas de vozes fazendo complexos acordes, indagando ao ouvinte: “Is this the real life? Is this just fantasy? Caught in a landslide, no escape from reality...” que mescla momentos melódicos e emotivos, levados pelo piano e pela linda voz de Mercury, que na letra também dialoga com a mãe sobre arrependimento, tristeza e vazio: “Mama, I don't wanna die, I sometimes wish I'd never been born at all”, mas que vai crescendo e mudando até se tornar uma ópera complexa com inúmeras camadas de vozes se intercalando, onde todos os membros da banda cantam palavras e expressões como: Mamma Mia, Galileo, Fígaro, Bismillah, Fandango, Scaramouch, Beelzebub, num momento da letra onde a compreensão literal se faz praticamente impossível, sugerindo apenas que o narrador se encontra em um julgamento infernal, onde um coro acusa e outro defende,  fato é que, tanto em seu início, em algum momento no meio e também no seu fim, a letra é melancólica e soturna, tratando de um indivíduo triste e arrependido por talvez ter matado alguém, em uma clara crise existencial, mas que na parte pesada, logo após os cânticos operísticos, parece ostentar uma certa revolta, mas que no fim retorna ao clima niilista: “Nothing really matters, anyone can see, nothing really matters to me”. Há muita controversa em relação à letra e seu significado, porém não há quase nenhuma em relação à genialidade de Bohemian Rhapsody e seu legado. A música deu trabalho, foram pelo menos três semanas de inúmeras sessões apenas paras as vozes, e com a tecnologia de 24 canais da época, muitas colagens de gravações que foram feitas separadamente foram necessárias para que se obtivesse o resultado final, sendo de fato uma das mais caras produções da época, por isso também o fato de que, não fosse a música um sucesso imediato, o Queen estaria falido. Encerrando o disco temos a versão instrumental do Hino Nacional Britânico, ou melhor dizendo, o canto monárquico imperialista God Save The Queen. A versão foi composta por Brian May ao piano ainda em 74, depois sendo refeita na guitarra para o disco. Em algum contexto, ela pode soar como uma peça nacionalista, no entanto, é óbvio que se trata apenas de uma alusão ao próprio nome da banda, o que acaba por soar nacionalista e ultrajante de uma só vez. Fato que a banda não executa tal faixa ao vivo, sendo apenas tocada pelos PA’s nos seus shows até hoje, quando então os membros agradecem ao público.



 A verdade é que nesse disco o Queen trabalhou, arriscou e investiu muito mais do que nos seus antecessores, fazendo uso de instrumentos inéditos na sua discografia, assumindo as diretrizes empresariais sob uma nova gravadora, gastando ainda mais dinheiro do que nos outros trabalhos, por isso, é de se imaginar a tensão financeira que rondava a banda, porém a convicção artística, o talento e a genialidade de todos os membros da banda definiram e garantiram que saísse o disco e, por fim, fosse o estrondoso sucesso que foi. O disco deu trabalho, mas foi finalizado em aproximadamente um mês de mixagens de muitas horas de trabalho, já que todos os membros gravaram suas partes separadamente em estúdios distintos, o que restou a fazer foi juntar tudo e trabalhar basicamente as camadas de vozes em um mesmo estúdio na Inglaterra, sendo posteriormente feita a masterização pela própria banda, acompanhada apenas do produtor técnico Roy Thomas Baker, mas ainda sim, o disco só foi finalizado de fato apenas três dias antes do lançamento. Em uma entrevista para a revista Rolling Stone em 1976, Freddie Mercury declarou: “Gravar A Night At The Opera foi uma experiência incrivelmente gratificante (...) pela primeira vez pudemos usar toda a nossa criatividade e deixar a nossa loucura fluir. Tudo o que não pode ser feito em Queen II fizemos com ele (...) foi um desafio é claro, porque somos um quarteto de perfeccionistas, mas tivemos a chance de nos testar ao limite pra ver se éramos tão competentes quanto pensávamos, e no fim, tudo valeu a pena (...) esses dias no estúdio fizeram eu me lembrar o porque de eu ter escolhido essa profissão."


Queen Em Porto Alegre


 Neste ano de 2015, que marca a passagem dos 40 anos do lançamento de A Night At Opera, o Queen retorna ao Brasil fazendo um show de grande repercussão no Rock In Rio, onde realizou um dos maiores shows da história da franquia lá em 85, e passando em seguida pela capital gaúcha no dia 21 de setembro, no ginásio Gigantinho, acompanhado do vocalista Adam Lambert. Após aquele grande tributo realizado em 92, a banda percebeu que podia seguir realizando shows pelo mundo, que o público aceitaria, pois mesmo que Freddy Mercury seja incomparável, todos os membros compunham e são responsáveis pelo sucesso da banda, e que com um vocalista adequado, poderiam sim dar sequência ao seu legado, ao menos para grandes concertos repletos dos maiores clássicos, porém o baixista John Deacon não pensava assim, e logo após o show tributo de 92, deu adeus à banda, com o Queen seguindo carreira com apenas dois de seus membros originais, Brian May e Roger Taylor. Passaram-se ainda alguns anos antes do Queen voltar a fazer shows oficiais, foi então que em 2004 a banda foi indicada ao UK Music Hall e Brian May convidou o experiente Paul Rodgers (Free, Bad Company) para cantar junto ao evento, fechando a parceria, e em seguida, saindo em uma turnê mundial em 2005, lançando um álbum ao vivo chamado Return Of The Champions, com músicas do Free, Bad Company, e claro, do Queen. 

 A química entre eles foi tão satisfatória que ainda rendeu um álbum de estúdio em 2008, intitulado The Cosmos Rocks, além de outros projetos ao vivo. Esse fato é descrito aqui principalmente para aqueles cuja recente turnê da banda soe desrespeitosa para com o legado de Freddy Mercury, evidenciando que o Queen já havia trabalhado bastante antes da entrada do jovem Adam Lambert, por isso, não há novidades quanto ao fato da banda sair em turnê mundial acompanhada de um novo vocalista. Adam Lambert é também ator, atuando em musicais desde os 10 anos de idade em inúmeros espetáculos. Em 2009, participou da oitava edição do American Idol, ficando em segundo lugar, onde na final, além de cantar junto da banda Kiss os clássicos Beth, Detroit Rock City e Rock N’ Roll All Night em um medley, ainda também cantou a faixa We Are The Champions junto do Queen, além de já haver cantado na estreia do programa a música Bohemian Rhapsody. Ainda em 2009 lança seu primeiro disco solo, o qual teve boas vendas e críticas, inclusive do próprio Brian May, sendo assim, em 2011 a banda realiza diversas apresentações junto de Lambert, que já era uma estrela do público adolescente na época, porém com um certo prestígio também entre alguns dinossauros da música, e desde então vem se apresentando junto à banda, saindo numa grande turnê mundial em 2014, esta que adentrou 2015 e teve passagem pelo Rock In Rio e por Porto Alegre. Com um estilo totalmente voltado para o glam, estilo cujo, além do ícone David Bowie, (que gravou com o Queen o clássico Under Pressure) também Freddy Mercury e toda a banda caracterizava-se nos anos 70 como entusiastas desse estilo visual, com muita maquiagem, glitter e glamour, fazendo sucesso entre o público gay, principalmente no começo dos anos 80, por isso então, a escolha de tal vocalista para assumir o posto de frontman também não seria tão estranha em se tratando de uma personagem que ilustra, ao seu estilo, o que o Queen sempre fez em matéria de performance e visual, porém há o fato de Lambert ser um exímio cantor, com um grande alcance vocal, com ótima técnica e impressionante presença de palco, mostrando segurança e atitude, assumindo de vez o posto de frontman de uma das maiores bandas de todos os tempos. As comparações musicais com Mercury são incabíveis, nunca houve e nem haverá alguém como Freddy Mercury, porém como um vocalista que defende e assumi um show performático, Adam Lambert não deixa em nada a desejar. 


Adam Lambert e Brian May no show em Porto Alegre/agência RBS

 O show em Porto Alegre apresentou uma estrutura e um som surpreendentes, pois é de conhecimento que o ginásio Gigantinho não detém uma acústica adequada para grandes shows, porém o que se ouviu foi um som de qualidade, com volume e brilho. A banda despejou seus clássicos de maneira sublime, com vigor e entusiasmo, fazendo o público se emocionar, pois praticamente todas as músicas do repertório eram de conhecimento de todos ali presentes, exceto a faixa Ghost Town, da carreira solo de Lambert, cuja se adequou até bem ao show, não deixando com que este decaísse, apenas fazendo alguns dos ouvintes estranharem e se perguntarem “que música é essa?”, e outros irem ao banheiro e afins. Em clássicos absolutos como Radio Gaga, Fat Bottomed Girls, Who Wants To Live Forever, Tie Your Mother Down e Somebody To Love, a voz e a performance de Lambert foram muito satisfatórias, levando o público ao êxtase, agradecendo enfaticamente aos fãs e a banda por permitirem que ele assumisse o tão famigerado posto. Em outras, como Crazy Little Thing Called Love e Another One Bites The Dust, talvez o seu timbre mais agudo ou alguma outra coisa não o tenha facilitado, mas longe de soar ruim ou deslocado. Tivemos ainda o dueto de Roger Taylor com o novo vocalista em Under Pressure, onde o baterista tocou em outro set armado em frente ao palco, o que foi exuberante, e ainda, Taylor fazendo a voz principal em These Are The Days Of Our Lives, do último disco do Queen lançado enquanto ainda vivia Freddie Mercury, Innuendo, de 91. Além dos dois membros originais da banda e o novo vocalista, ainda compõem no palco o tecladista Spike Edney, o baixista Neil Fairclough e o percussionista Rufus Tiger Taylor, que é filho de Roger Taylor, sendo Rufus então quem executa a bateria enquanto Taylor assume o vocal e o palco em These Are The Days Of Our Lives. Entre todos os grandes clássicos, há dois em especial que, de fato, leva às lágrimas grande parte da audiência presente, um deles é Love Of My Life, pois é quando Brian May assume a frente do palco com o seu violão e pede ao público que cante junto “por Freddy”, enquanto este aparece no grande telão e sua voz gravada de outro concerto é projetada pelos PA’s, fazendo emocionar qualquer fã do Queen de verdade, tal como acontece na primeira parte de Bohemian Rhapsody, um momento artificial, porém épico, que remete e faz-se perceber o tamanho deste artista e seu infinito legado. Ao final do show, as já esperadas apresentações de We Will Rock You, seguida de We Are The Champios, com Lambert vestido a rigor tal como uma majestade, numa alusão direta ao que o próprio Mercury fazia no passado. Um grande espetáculo de som, de performance e de emoção, e é exatamente isso o que o público buscava, ver de perto os grandes ídolos do passado no palco, numa performance profissional, competente e satisfatória a qualquer fã da obra do Queen e de Freddy Mercury, pois este, infelizmente, nunca mais será visto e ouvido ao vivo novamente. Contentemo-nos então com a celebração. 









segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A Revolução dos Bichos - George Orwell


 “[...] As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco”, do trecho final da obra.

 Mais do que uma crítica árdua ao comunismo em si, é de fato, como revela o próprio autor, uma tentativa de resgate da ideia socialista original, e a exemplificação da transformação causada pela tomada de poder na mente da maioria dos homens, que acaba por corromper o espírito da revolução, transformando em verdadeiros déspotas os seus líderes. É uma crítica, como quem já leu o clássico bem sabe, satírica sobre o stalinismo e suas práticas, e que na cena final - o que fez com que a própria CIA, que o distribuía como propaganda anticomunista, ocultasse de sua publicação animada - remete à comparação do regime stalinista com o regime capitalista, sendo duas faces opressoras de uma mesma moeda, cena esta que satiriza o encontro entre Churchill, Roosvelt e Stálin em Teerã, onde não se distinguiria os tais porcos dos humanos. Também pode ser apontada como talvez uma singela propaganda ao anarquismo de Mikhail Bakunin, mesmo que não intencionalmente, já que este rompe com a Internacional Socialista de Marx, de quem fora admirador, denunciando qualquer posicionamento superior de líderes políticos, se distanciando do comunismo que poderia, como se provou mais tarde, enveredar para uma ditadura sangrenta, abolindo totalmente a ideia de Estado, de classes e de fronteiras em seus manuscritos. A lição que fica do clássico, esta que seguirá imutável mesmo que passem 500 anos de sua publicação, e que é brilhantemente apontada no posfácio de Christopher Hitchens, é que “aqueles que renunciam a liberdade em troca de promessas de segurança acabarão sem uma nem outra”, e principalmente, a valorização das aulas de história, donde podemos tomar conhecimento de que nem sempre foi assim, nem tudo o que está escrito é verdade, e que não importa a cor da bandeira do regime ditatorial, a opressão e a mentira estarão presentes sempre que houver um grupo que manda e lucra e outro que apenas segue ordens, pois de fato existem apenas duas classes de seres humanos, os vivos e os mortos.


domingo, 6 de setembro de 2015

Narcos - 2015


 Não decepciona a primeira temporada de Narcos, pois há uma ótima presença de Wagner Moura interpretando o mítico gangster, convencendo bem com seu espanhol estudado e ensaiado e com sua forte presença. É um grande ator. Também sequências de perseguições em cenários típicos que desenham o ambiente de maneira realista, com muita inserção de fotos e vídeos históricos. Com certeza, uma ótima série de ação com relevantes fatos reais, que revelam parte de como se formaram os grandes cartéis narco traficantes da Colômbia. Mas também é notável na série um senso de imparcialidade, onde o narrador, membro da DEA, não omite as inescrupulosas manobras de seu famigerado país, CIA, exército, embaixadora e dele próprio, que para atingir sucesso em sua busca, foge às regras junto de seu parceiro, indo contra aos seus próprios princípios nacionalistas, me parece que em parte a série enfraquece essa ideologia patriótica imperialista estadunidense, e isso é bom. O que a série também vende em parte, o que também é claro em séries como Breaking Bad e Game of Thrones, por exemplo, são as personagens ambíguas, os anti heróis, o conceito de que, todos temos o bem e o mal dentro de si, ninguém é inocente, não há heróis, há conveniências. Pablo Escobar queria o congresso e o populismo, os “heróis” que o perseguem são apenas três, além da dupla de agentes que escapavam de seus protocolos e desafiavam seus superiores, cada um com suas motivações, o militar Carillo é o perseguidor de maior idoneidade e bravura entre eles, um colombiano, enquanto o governo gringo queria apenas perseguir os “comunistas”, ou seja, só o confronto político de quem manda mais com a velha USSR importava, foda-se a Colômbia, foda-se a Nicarágua, só o poder vale, apenas quando se deram conta do império que se levantava, tendo como mercado o seu próprio jardim, é que os estadunidenses fingiram se importar, porque apenas, de novo, alguém poderia se equiparar em algum aspecto com o Tio Sam e sua prepotência. A série evidencia isso na primeira metade da primeira temporada, por isso enfraquece essa visão heróica que Hollywood sempre vendeu pro mundo, a arrogância norte americana é exposta através das personagens, e isso a desmoraliza, além de quando ocorre o nítido acordo ao final com o cartel de Cali, evidenciando ainda mais o anti heroísmo da obra. Também uma boa trilha sonora com clássicos latinos e o tema de abertura de Rodrigo Amarante, que caiu bem. Além dos brasileiros Wagner Moura e André Mattos no elenco, a série tem a direção e roteiro de José Padilha em alguns episódios, que conta ainda com o chileno Pedro Pascal como Javier Peña, o príncipe da casa Martell assassinado na arena em GoT, e Boyd Holbrook como protagonista, o agente Steve Murphy, mas o destaque do elenco é de fato Moura, que engordou 20 quilos para o papel. O trabalho é feito por gente de experiência em muitas das outras grandes séries produzidas recentemente, tendo o criador Chris Brancato já trabalhado em séries como Arquivo X e Hannibal, porém a troca de diretores constante pode ter alterado o ritmo dos episódios entre si, mas creio que isso seja normal e proposital, fato que é uma grande série, que foca mais nos conflitos em torno das personagens principais, evitando uma glamurização de festas e outras possíveis extravagancias ocasionadas pelo consumo de drogas, é raro ver alguém usando a cocaína na série, apenas a maconha tem seu consumo bastante mostrado, além da planta em si, o que acontece também com a coca no início, mostrando parte de como ocorre a fabricação da droga. Tudo indica uma próxima temporada ainda sobre a saga de Pablo Escobar, basta que siga com a qualidade desta que o sucesso aumentará. Recomendo!

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A Maldição de Frankenstein - 1957



 Se analisarmos a obra como sendo uma interpretação à parte do romance original, mesmo hoje, o filme pode ser considerado um marco referencial do gênero, o que de fato é, pois foi a primeira imersão no universo do horror gótico da produtora inglesa Hammer, lá nos idos de 1957, e que foi objeto de sua dedicação até o final dos anos 70, despontando estrelas como Peter Cushing e Christopher Lee.

 A Maldição de Frankenstein foi um sucesso na época, o que fez com que a Hammer seguisse apostando no gênero, no entanto, nem de longe desencava os sentimentos angustiantes, a melancolia e o clima lúgubre e amaldiçoado que inunda toda a extensão do romance de Mary Shelley, pois como dito, essa é uma interpretação bem diferente do romance, o que pode ter sido causado por questões dos direitos sobre a obra original, por isso, além dos nomes de algumas personagens da trama, apenas o fato de Victor Frankenstein ser um cientista obcecado pelo seu trabalho, que consiste em dar vida a uma criatura formada por partes distintas de cadáveres, é idêntico ao livro, o que é obrigatório no filme que detém tal título, no entanto no filme, o cientista assassina parte das vítimas que compõe o corpo de sua criatura, fato extremo que não ocorre no livro, dentre outras particularidades da película bem distintas do original. Mas temos pequenas alusões também, por exemplo quando a criatura encontra-se com um velho cego em um bosque, o que no livro se dá de maneira e circunstâncias muito diferentes. Não temos o drama nos confins dos gelos polares que dão inicio à obra, e que também ambienta o seu triste desfecho, o filme se passa todo na casa de Frankenstein, que a herda ainda muito jovem, quando então começa os seus estudos macabros, apoiado pelo tutor contratado. No livro, esse processo de aprendizado se dá de maneira muito diferente, com Victor mergulhando de fato em sua pesquisa apenas quando sai da casa de seus pais em Genebra, estudando autores alquimistas considerados ultrapassados em sua época, em uma obsessão que ultrapassa qualquer limite de sanidade, o que lhe faz cair doente e termina por desgraçar toda a sua família. Claro que a devida ambientação traria gastos exorbitantes à produção, além de que, provavelmente teria um resultado desastroso, dessa maneira, o diretor Terence Fisher consegue dar vida a uma nova obra baseada no clássico romance, e que obteve o êxito merecido, difundindo o gênero a inúmeras gerações que viriam a seguir. 
 Enfim, o filme como uma obra independente é muito bom, com um cenário e um clima que, com certeza, aterrorizou o público na época de seu lançamento, mas que hoje, não passa de uma referência histórica, trazendo diversão ao público, e também o deslumbre de um dos primeiros trabalhos de sucesso de Christopher Lee, que encarna o monstro, ator cujo hoje é cultuado por legiões de fãs, por seus inúmeros trabalhos desde a época na Hammer.

 O filme faz parte da mostra Hammer - 80 anos de Horror, na Sala P. F. Gastal, que fica no 3º andar da Usina do Gasômetro. A mostra vai até o dia 16 de agosto, abaixo o link.