domingo, 8 de setembro de 2013

O que faz a vida



 Quando tinha 14, 15 anos, sonhava com um futuro artístico comparável a de um legítimo rock star internacional. Imaginava-me cantando, lá pelos meus vinte e tantos anos, em frente a uma grande banda, sob luzes e aplausos, dominando uma postura de palco grandiosa, entonando vozes de maneira técnica e precisa, em frente a multidões, cantando com minha banda o meu próprio material, que seria sucesso, que renderia prêmios, paixões e dinheiro. Via-me em concertos de grandes cidades, clubes, festivais, com figurinos únicos e personalizados, ovacionado pela crítica e público em geral.
Hoje vivendo os ditos vinte e tantos anos, percebo que não fora tão longe as fantasiosas imagens que surgiam na minha cabeça adolescente, que meus passeios imaginativos diários não se tornaram tão distantes e absurdos na atualidade, já que canto hoje em várias bandas de rock. Já gravei e executei material próprio de maneira modesta, porém considerável, domino uma performance segura com alta postura e presença de palco, atingi uma técnica vocal bem além das expectativas, conjeturadas de maneira ingênua no passado. Desenvolvi um repertório razoável no formato solo, executando voz e violão, patamar sonhado de forma bem distante na adolescência. Já senti algumas vezes a emoção e a energia louca de estar sobre um palco cantando em frente a muitas pessoas, na mira de todos os olhares e de toda a atenção. Já ouvi muitos elogios após o show e já até me acostumei a eles, no entanto penso, que sentido faz isso? Penso se não desperdicei anos de energia em uma atividade que não ultrapassará o hobbie e o amadorismo, penso se não devia ter investido a mesma energia e foco em coisas mais reais e possíveis de se atingir o devido sucesso e reconhecimento, podendo enfim ultrapassar a barreira do amador para o profissional. Mas também penso e por fim me convenço de que, se há uma época na vida em que se tem energia e vontade é nesses 14, 15, vinte poucos anos e que me arrependerei muito se, quando não houver mais a força e a energia pueril e raivosa da minha juventude, eu quiser voltar no tempo para gastá-la como realmente sonhara a vida toda, como a imaginei desde a puberdade, assistindo aos mais jovens executarem suas proezas de forma triste e saudosa. E isto também mostra que, quando nos visualizamos já fazendo a coisa sonhada, quando vivemos e respiramos uma vontade e um sonho todos os dias, que quando acreditamos muito em nós mesmos, muito mais do que qualquer outro possa, atingimos, mesmo que parcialmente, o objetivo. O universo, a vida ou a vontade canalizada tende e impulsiona nosso destino, nos atraindo, nos empurrando ao futuro que permeia nossos pensamentos e desejos diários, pois me vejo muito próximo daquela figura que imaginava a mim mesmo quando adolescente, sem as devidas proporções megalomaníacas, porém dominando muitos aspectos fundamentais do estereótipo que desejava atingir no futuro, realizando muitas das proezas sonhadas. Mas ainda penso, tem sentido isso? Hoje reconheço tais fatos, porém não sinto a satisfação ou o alívio de dever cumprido. Penso muitas vezes estar realmente perdendo tempo, perdendo energia, desperdiçando talento. Porém hoje, da mesma forma que me imaginava um músico de sucesso na flor da idade, me imagino hoje um futuro escritor de sucesso já ultrapassando a meia idade, um senhor com fôlego pra falar e sabedoria para lapidar as palavras e os dizeres. No acúmulo de anos e sabores provados, me imagino experiente, vívido e vivido, culto e forte, para desdobrar assuntos, diálogos e histórias, para contar e recontar o que há de ser dito e escrito, a ouvidos e olhos interessantes e interessados. Viajado e lido, com muita bagagem literária e de estrada, muto bem acompanhado por mulher, filhos e netos, talvez também bem acompanhado por médicos e medicamentos e dietas rigorosas, porém sempre com mais livros e conhecimento. Sinto a nostalgia eufórica e melancólica que atingirá minhas entranhas. Vejo-me muito mais sensível e caprichoso. Mais vivo por conhecer mais de perto a morte e quem sabe, satisfeito e enfim, orgulhoso do dever cumprido, da vida vivida. Vejo isso e sei que atingirei, pois tudo isso é treinamento. Cada hoje é um aprendizado para o amanhã.




Mas sei que sou dois

Yng e yang, um pêndulo inconstante

Temo e enfrento, aconselho a mim mesmo

Conselhos que dou e não sigo

Sou bipolar, multipolar

Quero e depois não quero

Ou sinto que não sei, às vezes me desespero

As dúvidas me matam, porém lembro o que sonhei

E sei o que vejo e sinto agora

E sonho querer mais e com mais força

Pois sei que é possível

Pois naquilo que amo e me enxergo

Sempre hei de recomeçar