No princípio, a maneira como se distribuía o texto incomodou-me por
demais, o achei tosco, impulsivo, me parecia um devaneio lunático, como se o
tipo estivesse há 3 dias cheirando cocaína, bebendo café e escrevendo sem parar
tudo o que lhe viesse a cabeça, como se nada pudesse ser desperdiçado ou mesmo
filtrado. Mas logo antes da metade do livro, acredito, adaptei-me a esse ritmo
frenético kerouaciano, com todos os seus parênteses seguido de parênteses seguidos
de mais parênteses, quase sem vírgulas, pontos ou divisões, um raciocínio e
relato que levava a outro e a outro ainda, me fazendo às vezes voltar a página
para recordar o que era mesmo que estava sendo dito ali.
Mas a importância artística e histórica desta obra é indiscutível, tanto
pelo estilo único e incomparável de Kerouac, quanto pelo que ali é apresentado,
um romance entre 2 "subterrâneos", hips, beats, em uma San Francisco
de clima caótico e alucinado, em meio a discussões malucas literárias, festas e
bebedeiras entre poetas, artistas, regado a muito bop e muitas noites sem dormir, além da profecia
triste e melancólica do fim do grande escritor, proferida por ele mesmo neste
livro, seu fim pelo alcoolismo e loucura.
Uma grande obra, não a melhor do mestre, mas uma fundamental.