segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A Revolução dos Bichos - George Orwell


 “[...] As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco”, do trecho final da obra.

 Mais do que uma crítica árdua ao comunismo em si, é de fato, como revela o próprio autor, uma tentativa de resgate da ideia socialista original, e a exemplificação da transformação causada pela tomada de poder na mente da maioria dos homens, que acaba por corromper o espírito da revolução, transformando em verdadeiros déspotas os seus líderes. É uma crítica, como quem já leu o clássico bem sabe, satírica sobre o stalinismo e suas práticas, e que na cena final - o que fez com que a própria CIA, que o distribuía como propaganda anticomunista, ocultasse de sua publicação animada - remete à comparação do regime stalinista com o regime capitalista, sendo duas faces opressoras de uma mesma moeda, cena esta que satiriza o encontro entre Churchill, Roosvelt e Stálin em Teerã, onde não se distinguiria os tais porcos dos humanos. Também pode ser apontada como talvez uma singela propaganda ao anarquismo de Mikhail Bakunin, mesmo que não intencionalmente, já que este rompe com a Internacional Socialista de Marx, de quem fora admirador, denunciando qualquer posicionamento superior de líderes políticos, se distanciando do comunismo que poderia, como se provou mais tarde, enveredar para uma ditadura sangrenta, abolindo totalmente a ideia de Estado, de classes e de fronteiras em seus manuscritos. A lição que fica do clássico, esta que seguirá imutável mesmo que passem 500 anos de sua publicação, e que é brilhantemente apontada no posfácio de Christopher Hitchens, é que “aqueles que renunciam a liberdade em troca de promessas de segurança acabarão sem uma nem outra”, e principalmente, a valorização das aulas de história, donde podemos tomar conhecimento de que nem sempre foi assim, nem tudo o que está escrito é verdade, e que não importa a cor da bandeira do regime ditatorial, a opressão e a mentira estarão presentes sempre que houver um grupo que manda e lucra e outro que apenas segue ordens, pois de fato existem apenas duas classes de seres humanos, os vivos e os mortos.


domingo, 6 de setembro de 2015

Narcos - 2015


 Não decepciona a primeira temporada de Narcos, pois há uma ótima presença de Wagner Moura interpretando o mítico gangster, convencendo bem com seu espanhol estudado e ensaiado e com sua forte presença. É um grande ator. Também sequências de perseguições em cenários típicos que desenham o ambiente de maneira realista, com muita inserção de fotos e vídeos históricos. Com certeza, uma ótima série de ação com relevantes fatos reais, que revelam parte de como se formaram os grandes cartéis narco traficantes da Colômbia. Mas também é notável na série um senso de imparcialidade, onde o narrador, membro da DEA, não omite as inescrupulosas manobras de seu famigerado país, CIA, exército, embaixadora e dele próprio, que para atingir sucesso em sua busca, foge às regras junto de seu parceiro, indo contra aos seus próprios princípios nacionalistas, me parece que em parte a série enfraquece essa ideologia patriótica imperialista estadunidense, e isso é bom. O que a série também vende em parte, o que também é claro em séries como Breaking Bad e Game of Thrones, por exemplo, são as personagens ambíguas, os anti heróis, o conceito de que, todos temos o bem e o mal dentro de si, ninguém é inocente, não há heróis, há conveniências. Pablo Escobar queria o congresso e o populismo, os “heróis” que o perseguem são apenas três, além da dupla de agentes que escapavam de seus protocolos e desafiavam seus superiores, cada um com suas motivações, o militar Carillo é o perseguidor de maior idoneidade e bravura entre eles, um colombiano, enquanto o governo gringo queria apenas perseguir os “comunistas”, ou seja, só o confronto político de quem manda mais com a velha USSR importava, foda-se a Colômbia, foda-se a Nicarágua, só o poder vale, apenas quando se deram conta do império que se levantava, tendo como mercado o seu próprio jardim, é que os estadunidenses fingiram se importar, porque apenas, de novo, alguém poderia se equiparar em algum aspecto com o Tio Sam e sua prepotência. A série evidencia isso na primeira metade da primeira temporada, por isso enfraquece essa visão heróica que Hollywood sempre vendeu pro mundo, a arrogância norte americana é exposta através das personagens, e isso a desmoraliza, além de quando ocorre o nítido acordo ao final com o cartel de Cali, evidenciando ainda mais o anti heroísmo da obra. Também uma boa trilha sonora com clássicos latinos e o tema de abertura de Rodrigo Amarante, que caiu bem. Além dos brasileiros Wagner Moura e André Mattos no elenco, a série tem a direção e roteiro de José Padilha em alguns episódios, que conta ainda com o chileno Pedro Pascal como Javier Peña, o príncipe da casa Martell assassinado na arena em GoT, e Boyd Holbrook como protagonista, o agente Steve Murphy, mas o destaque do elenco é de fato Moura, que engordou 20 quilos para o papel. O trabalho é feito por gente de experiência em muitas das outras grandes séries produzidas recentemente, tendo o criador Chris Brancato já trabalhado em séries como Arquivo X e Hannibal, porém a troca de diretores constante pode ter alterado o ritmo dos episódios entre si, mas creio que isso seja normal e proposital, fato que é uma grande série, que foca mais nos conflitos em torno das personagens principais, evitando uma glamurização de festas e outras possíveis extravagancias ocasionadas pelo consumo de drogas, é raro ver alguém usando a cocaína na série, apenas a maconha tem seu consumo bastante mostrado, além da planta em si, o que acontece também com a coca no início, mostrando parte de como ocorre a fabricação da droga. Tudo indica uma próxima temporada ainda sobre a saga de Pablo Escobar, basta que siga com a qualidade desta que o sucesso aumentará. Recomendo!