Eu gosto de Dead Kennedys e de Roupa Nova. Ouço de Los Hermanos a Impaled Nazarene, de Rhapsody a Soda Stereo. Sou muito influenciado por nomes distintos como Radiohead e Def Leppard, também desde Beatles a Muse. Adoro jazz, country e samba também. Por isso há a necessidade de se classificar eclético, mesmo que o sendo dentro de certas limitações, mas que não são tão específicas. Gosto da música pura, e também da música ideológica, falando de amor ou protestando, com crítica social ou besteirol sexista, música política ou non sense, erudita ou marginal. Não é numa banda de punk, de blues ou de heavy metal que eu me satisfaço, mas numa banda que faça tudo isso, de maneira radicalmente livre, simplista ou experimental. Pois toda a afirmação é uma negação. Tampouco me importa a língua cantada, só o bom gosto e a qualidade é que importam, e a impressão de sinceridade e excelência naquilo que se faz e que se mostra pro mundo. O universo musical se resume cientificamente apenas em Nota e Ritmo, o resto é arte, e cada um sabe o que é melhor pra si e pra seus ouvidos.
Queen - A Night At The Opera - 1975
Dentro do rock, há inúmeros artistas que se propõe a essa liberdade de experimentação, desde os anos 60, quando a música oriental e os recursos de estúdio aprimorados deram uma outra dimensão para a música pop desde então. Dentre muitos, nos anos 70 o Queen, com o seu genial A Night At The Opera, chocou parte do público pela mescla de gêneros explorados, desde o balé até o country, e claro, o hard rock glam em voga na época. Mais tarde, a partir do fim dos anos 80, através dos 90 e entrando nos 2000, temos em Mike Patton um ícone do experimentalismo radicalmente livre, que é evidente em todos os seus projetos, que vão do inclassificável Mr. Bungle, através do exitoso e também perturbador Faith No More, passando por projetos como Fantômas, Tomahawk e Peeping Tom, além do seu disco solo intitulado Mondo Cane, onde apresenta canções populares italianas acompanhado de uma orquestra. A dinâmica de estilos é tão imprevisível quanto as capacidades de sua performance vocal, que vai do gutural ao falsete, como barítono e às vezes até como tenor, no jazz, funk, metal, hard rock, rap, grind core, death metal, pop e seja lá o que mais! No Brasil, temos a banda porto alegrense De Falla, que é precursora da mistura de vários gêneros, brasileiros e estadunidenses, de maneira que beira ao absurdo, com hard rock, funk, rap, entre outras misturas excêntricas, eletrônicas ou pesadas, que fazem do disco Kingzobullshitbackinfulleffect92, de 1992, um clássico incomparável.
De Falla - Kingzobullshitbackinfulleffect92
Abaixo o link do disco de 2003, Director's Cut, do projeto Fantômas, formado em 98 e liderado por Mike Patton, projeto/banda que tem o título oriundo de um personagem da literatura e do cinema francês, cujo apresenta temas de filmes em versões bizarras, misturadas ao metal e ao hard core extremo. Também destaco a versão para Satisfaction, dos Rolling Stones, pelo De Falla no disco em questão, que soa algo muito bem elaborado, calcado no soul e que, de maneira bizarra, adentra ao que se pode chamar de thrash metal. Insano!
Dando continuidade à
matéria analítica sobre o já concreto legado deixado e construído atualmente
pelo Muse, e passados em torno de 40 dias do lançamento mundial oficial do seu
mais recente disco, e também por já haver vídeos e impressões abundantes pela
internet sobre a banda, penso ser o momento apropriado para uma resenha do
álbum lançado em 9 de junho deste ano aqui no Modus Operandi.
O disco foi anunciado
em março, com a banda declarando que se trataria de um trabalho mais voltado
aos primórdios da banda, com mais peso, mais básico, também foi descrita a
linha temática do álbum, que referia-se a um futuro distópico onde homens eram
dominados por máquinas, que manipulavam drones, que por sua vez controlavam
outros drones, transformando então o ser humano num ciborgue metade humano
metade drone escravizado. Um disco conceitual foi anunciado. Simultâneo ao
anúncio do álbum, do tema e da arte da capa, que traz então uma tela com
soldados manipulados à distância por um ser que também é manipulado, dando
profundidade ao conceito, também fora disponibilizado a primeira faixa e o seu
videoclipe, Psycho foi o primeiro trabalho exposto, revelando de fato um peso
característico dos primeiros discos da banda, além de um clipe crítico ao
sistema militar e a manipulação brutal dos jovens através deste serviço.
Outras faixas foram
sendo disponibilizadas sistematicamente até o lançamento físico e oficial de
Drones em junho, deixando menos da metade do disco inédito até o derradeiro
lançamento, no entanto, isso aumentou ainda mais o enfoque sobre o trabalho da
banda, que em grande parte, cumpriu com o prometido em março.
O disco, que é
produzido pelo lendário Robert Mutt Lange, que trabalhou com AC/DC, Def
Leppard, entre outros, abre com a faixa Dead Inside, cuja foi a segunda a ser divulgada
logo após o lançamento de Psycho, porém nesta, observa-se vários elementos eletrônicos,
diferente, portanto, do peso esperado, ainda mais pela expectativa criada por
Psycho. Porém a faixa é bela e traz a tona o tema sobre o vazio interior
causado pela artificialidade do ser humano nesse mundo pós moderno, podendo ser
considerada uma das melhores faixas do álbum, mesmo que musicalmente, apresente
mais semelhança ao clima do disco anterior da banda, o The 2nd Law, por causa
dos efeitos e da sua estrutura. Nessa faixa, mais uma vez Matt Bellamy atinge
notas altas e evidencia o seu canto primoroso e apurado, mas que ao vivo, não
repete com precisão as partes mais altas e difíceis, como quando canta a frase
“don’t leave me out in the cold...”, porém fisicamente, o músico está muito
longe de se aproximar de sua decadência, ele tem apenas 35 anos. A próxima
música na sequência é Psycho, preludiada pela fala do sargento cujo é personagem
central da faixa, que leciona um exercício militar cruel mostrado no clipe
lançado em março. A faixa tem um peso característico da influência do nu metal
que o Muse apresenta, porém os fãs mais assíduos reconhecem que o riff
principal é bem antigo, sendo possível notá-lo em shows que remetem desde 2004,
ou antes, nos momentos de peso semi improvisados que acompanham os finais de
algumas faixas, tal como ocorria em Stockholm Syndrome. A sua letra parte da
perspectiva do sargento, ditando sua doutrina que desenvolve assassinos
psicóticos. Uma música bastante crítica que faz jus ao peso anunciado
anteriormente. Na sequência temos a
faixa Mercy, que também fora lançada antes do disco na internet. A música é
quase uma balada e foi muito bem recebida pela crítica mundial, pois ela tem
variados elementos que a personificam, teclados, efeitos, boas linhas de
guitarra, com uma levada pop e com um refrão grudento, e mais uma vez, com uma
maravilhosa linha vocal de Bellamy, que explora bastante seus falsetes, como
sempre. A letra agora se põe no lugar de uma vítima que clama por misericórdia,
ao que é explorada e escravizada por essa inteligência manipuladora que opera
através dos supracitados drones.
A quarta faixa do
disco é, na opinião deste que vos escreve, a melhor, é tudo aquilo que foi
anunciado em termos de peso e temática, Reapers apresenta todos os elementos
centrais do disco, mas ainda, em sua introdução, podemos ouvir toda a técnica
apurada da guitarra de Bellamy, que executa fazendo uso do tapping, técnica
muito explorada por variados guitarristas virtuosos e que foi popularizada por
Eddie Van Halen ainda nos anos 70, havendo ainda em uma das críticas periódicas
de um jornal local a comparação de Reapers com a clássica Hot For Teacher, do
Van Halen, do disco 1984, o que faz bastante sentido visto o caráter técnico da
guitarra na introdução. Em Reapers, Bellamy ainda executa um dos seus melhores
solos da carreira, preciso, técnico e marcante. A melodia do refrão também é
bela, com a voz de Matt recheada de efeitos, o que por sua vez a desvaloriza um
pouco, ainda mais ao vivo, soando exagerado esse uso dos efeitos nessa parte da
voz. A faixa ainda conta com momentos de puro peso, tendo o baixista Chris
Wolstenholme berrando literalmente a frase “here come the drones!”, com sua voz
também recheada de efeitos, porém dando um aspecto sujo e robótico à sua voz, o
que se encaixa no contexto. Reapers também foi lançada antes do disco - poucas semanas
antes - em um clipe que explora uma perseguição através do uso dos drones, indo
de encontro direto com a letra, que aborda o ápice da decadência humana através
da subordinação às máquinas, transformando o homem em uma presa sendo caçada
por ceifeiros e “falcões” cibernéticos, mantendo então a temática distópica do
disco, citando inclusive a C.I.A. como uma das formas opressoras, e sua
brutalidade. A seguir, a música de Drones talvez mais aclamada pelos fãs da
banda, a poderosa The Handler. Esta apresenta já no seu início um riff pesado,
se transformando numa das faixas mais cruas do disco, tal como Psycho, com
poucos efeitos se comparada às demais, com uma melodia fascinante e trabalho
vocal magnífico novamente, também é notável a presença da linha de baixo
marcante de Wolstenholme, que explora um arranjo complexo, não se limitando ao
básico, e claro que a técnica de Dominic Howard não deixa nunca a desejar. A
letra revela uma espécie de sequência à Reapers, pois transmite uma ideia de
que a personagem se encontra presa sob o domínio do opressor, clamando por
liberdade, seria, portanto, a consequência da fuga infrutífera transmitida na
faixa anterior. A música ainda apresenta outro solo apuradíssimo de guitarra,
tornando então esta uma das melhores faixas do disco absolutamente.
A seguir encaminha-se
a segunda metade do disco, que não apresenta a mesma qualidade da primeira, mas
ainda mantém alto nível e desdobramentos sobre o tema central. A faixa Defector
tem como introdução um discurso de J. F. Kennedy, onde este critica as formas
dissimuladas de guerrilhas pelo mundo, dentre outras críticas ao sistema
internacional visto de seu modo, exprimindo um aspecto positivista, mesmo
crítico, como a música em questão. A letra de Defector relata a liberdade do
indivíduo, que escapa, ou deserta, do sistema que o oprime, porém musicalmente,
a faixa não apresenta tanta qualidade quanto as demais, sendo talvez a mais
fraca do disco, mesmo tendo um riff inicial atraente e levadas interessantes e
com certo peso. Depois temos Revolt, apontada por muitos como a mais pop do
disco, soando como um hit adolescente, porém apesar dessa característica, é uma
faixa fascinante, mesmo com o seu refrão grudento recheado de falsetes, porém
de muita qualidade. De fato lembra algo jovial, mas agradável, salientando o
clima positivista desse momento do disco, tendo na sua letra um estímulo à
revolta adolescente em meio a ruídos e sirenes. A seguir, há a primeira que
pode ser considerada uma balada de fato, a faixa Aftermath apresenta o momento
quando o indivíduo cansa de fugir e lutar e apenas quer retornar aos braços e
ao conforto de seu amor, sendo uma faixa simples e melódica, sem nenhum peso ou
momento virtuoso, com uma introdução de guitarra modesta, mas bela, o que dá
uma quebra no clima do disco, complementando-o. Na sequência temos a longa The
Globalist, que alterna momentos calmos, tal como no seu início, que tem um
assovio que remete a alguma trilha sonora western, além de uma guitarra em
slide, seguindo uma linha melódica semelhante à de Aftermath, porém em seguida
surge um riff e a música ganha peso, em meio a um corpo de vozes soturnas,
acompanhadas por uma contagem regressiva que parece ir de encontro à destruição
do mundo, seguida por sua vez pela bateria de Howard e então logo surge um
pequeno solo de guitarra e o peso dá lugar a uma linha de piano e novamente a
voz de Bellamy. Sua letra soa melancólica no início, como um diálogo em direção
a um indivíduo, o estimulando a surgir como um deus de seu mundo para então
dominar e destruir. Dá a impressão que o sistema capitalista fala com ele, ou
talvez a forma de inteligência artificial dominante, fato é que alguma força
maior lhe diz para “destruir para construir”, numa espécie de pensamento modernista.
Após a passagem pesada e a volta da voz, a letra soa ainda mais melancólica,
com agora o protagonista lamentando o mundo destruído deixado para trás, todas
as culturas e virtudes humanas destruídas em nome do progresso assassino, e no
final, ele clama que só precisa de amor. É uma música interessante, lembrando o
final do disco The Resistance, onde há três faixas que complementam um tema em
si, tal como em uma sinfonia, no entanto em The Globalist, os três momentos se
encontram na mesma faixa, que soma mais de dez minutos. Para encerrar o
trabalho, a banda apresenta uma espécie de canto gregoriano, faixa esta que
possui o título do disco, Drones, num tipo de oração/lamentação pela perda dos
entes queridos, mortos pelos drones, e ainda, questionando a tal força superior
se esta está morta por dentro; se ainda sente algo, e por fim, afirmando que
esta agora pode matar da segurança de casa através dos drones, encerrando a
lamentação com um “amém”.
O disco como um todo é
muito bom, alternando peso e efeitos às vezes moderados, sem muita inserção de
piano e batidas eletrônicas, também não há sinais do groove dos outros discos,
porém esta era a proposta desse trabalho. A banda divulgou que o disco teria
como característica o peso dos primeiros trabalhos, o que de fato ocorre em
duas ou três faixas, no entanto, a banda não soa mais como naquele início, o
que é natural e até saudável, já que a principal característica do Muse é a
mistura de estilos muito distintos e uma nova sonoridade a cada disco. É
possível dizer então que Drones não soa como “algo extremamente novo”, algo
inédito em relação à própria banda, como ocorrera em quase todos os seus
trabalhos, já que conta com elementos musicais de toda a carreira, motivo
evidenciado pelo riff de Psycho, que já existia desde 2004 pelo menos, então o
álbum soa como uma coletânea de alguns elementos que a banda explorou na sua
trajetória. Pensando assim, poderia soar como algo prostrado musicalmente, mas
não, é um disco que busca resgatar o espírito dos antigos fãs de seu peso
melancólico, e ainda, penso que o verdadeiro empenho da banda foi em relação às
letras, criando um disco conceitual, que critica e até profetiza um futuro onde
somos dominados por máquinas criadas por nós mesmos, ou por um governo humano
latente nessas máquinas, um pensamento oriundo da cibercultura desde os anos 80,
também prevê o deslumbre de um mundo fatalmente destruído e aponta o apelo
sentimental primitivo, que é consequente ao vazio desiludido perante a
destruição causada pelo progresso racionalista e mortal, que acaba com a vida
do planeta e, consequentemente, com a vida humana.
Já são vários os
registros ao vivo disponíveis na internet da turnê de 2015, com shows ocorrendo
neste momento por toda a Europa, onde podemos assistir as performances de
faixas como Mercy, Psycho, Dead Inside, The Handler e Reapers, esta que ao vivo
assombra pela qualidade, porém talvez incomode o demasiado efeito posto na voz
de Bellamy no seu refrão, ainda maior que no registro em estúdio. Em outubro, a
banda se apresenta no Brasil, no Rio de Janeiro e em São Paulo, nos dias 22 e
24 de outubro respectivamente.
Os capítulos da animação Animatrix chamados The Second Renaissance abordam a queda da raça humana perante o domínio das máquinas; mostra o período que antecede essa dominação; a guerra entre homens e máquinas; o exílio dessas máquinas; a sua vitória; a exploração do corpo humano para a extração de energia e a criação do mundo virtual implantado nas memórias humanas, a Matrix.
A animação é dividida em nove partes, todas abordando o universo mostrado no filme Matrix, onde o herói Neo busca a salvação dos sobreviventes da raça humana na última cidade livre restante, Zion. Os dois capítulos The Second Renaissance têm sua história contada a partir do acesso aos arquivos históricos de Zion.
A obra é uma coprodução entre Estados Unidos e Japão e conta com vários diretores, inclusive a dupla de irmãos responsáveis por Matrix, Andy e Larry Wachowski.
Animatrix, assim como o filme que o originou, revela muitos traços religiosos, apontando referências da cultura judaico cristã, além da arte com influência da cultura hindu, porém na narrativa é onde as referências religiosas são mais evidentes, fazendo muitas analogias à bíblia, principalmente ao livro de Gênesis, distorcendo o texto sobre a criação do homem por um deus, mas contando a criação das máquinas pelo deus homem.
A arte da obra aponta traços do anime japonês, além da computação gráfica, evidenciando então a parceria EUA – Japão. Os dois episódios em questão ainda contam com a direção de Mahiro Maeda e com o roteiro inspirado pelos quadrinhos dos irmãos Wachowski.
O que fica claro na produção, que é de 2003, é a inevitável relação contextual com a crise sócio cultural em que está inserida, quando então, há menos de dois anos antes, ocorreram os atentados ao World Trade Center. A forma como é tratada a crise em relação à independência das máquinas é muito semelhante ao medo que as grandes potências mundiais tinham, e ainda têm, em relação à dominação muçulmana. É possível notar em cenas sutis, como a em que uma mosca é morta sobre o mapa do Iraque, além da forma como são tratadas as máquinas humanóides após a ilegalidade de suas existências, muito parecida com a intolerância praticada em relação aos muçulmanos após o fatídico 11 de setembro de 2001, onde muitos destes foram hostilizados pelo mundo, tal como os robôs os são na trama, estes que revelam inclusive a noção de suas existências, mostrando sentimentos humanos e apelo por suas vidas. Também é evidente a analogia ao contexto da época na escolha da localização do refúgio e construção da nova civilização pelas máquinas, que hoje é exatamente onde fica o Iraque e que um dia foi o berço da civilização humana, a Mesopotâmia, revelando por sua vez, o sentido do título dos episódios, a Segunda Renascença, porém nesta, diferente da primeira, onde o homem se liberta da Idade Média e, em parte, dos dogmas religiosos, há a então libertação das máquinas do domínio humano, assumindo o poder não apenas sobre suas próprias existências, mas poder sobre o seu criador.
Nesta cena de The Second Renaissance, um grupo de
humanos humilha e destrói uma máquina humanóide
de aspecto feminino, que clama por sua vida,
em uma cena forte e de apelo simbólico
A obsessão do homem pelo desenvolvimento tecnológico, tanto nas ciências quanto no imaginário artístico, existe desde meados do século XVIII, com o surgimento da revolução industrial e a influência do pensamento iluminista e modernista, porém no caso específico de Animatrix, essa obsessão transcende a exploração do espaço, dos ciborgues e demais artigos oriundos da cibercultura, difundida massivamente nos anos 80. O que Animatrix aborda, assim como o longa Matrix, vai além, apontando a revolta da criatura perante o criador; o martírio da criatura diante da rejeição de seu criador, tal como o monstro de Mary Shelley no seu clássico absoluto Frankenstein, apropriadamente também chamado de O Prometeu Moderno, mas ainda, mostra a dimensão atingida pelo conceito de ciberespaço, onde nesse futuro, em que seres humanos nada são além de fontes de energia, a imersão contínua nessa realidade virtual é imposta a fim de amenizar o sofrimento do ser humano, para então um melhor aproveitamento na extração de energia. É aí que a obra atinge o seu apogeu sobre o imaginário da cibercultura, na criação dessa ilusão funcional criada pelas máquinas, denominada Matrix, conceito este herdado do clássico da literatura ciberpunk, Neuromancer, de William Gibson, lançado em 1984. É a revelação do medo do homem moderno, o medo do iminente fracasso perante a sua tecnologia, o medo de ser engolido por sua criação.