O espetáculo Os
Homens do Triângulo Rosa, do grupo Cia. Teatro ao Quadrado apresenta uma obra
que vem de encontro a uma questão pouco conhecida do público sobre o
holocausto, a perseguição aos homossexuais alemães do período nazista, tema
considerado tabu até os dias de hoje. De maneira impactante, ele aborda o tema
e sugere a reflexão sobre essa intolerância aos homo afetivos que, ainda hoje,
é vista por muitos como uma aberração.
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Flyer Divulgação |
Com uma trilha sonora
executada ao vivo, no estilo dos velhos cabarés, outrora muito populares na
capital alemã, a peça desenrola as relações amorosas de uma personagem
conflitada entre a vida boêmia que levava com seu companheiro bailarino, sua
conturbada relação familiar, até a prisão e confinamento nos campos de concentração
nazistas. Uma vida que passa do glamour à marginalidade em instantes.
No enredo, que é uma
adaptação da obra Bent, de Martin Sherman, mesmo com a ascensão do partido
nazista liderada por Adolf Hitler, os cidadãos alemães que se identificavam
como homossexuais, ou apenas simpatizantes, gozavam ainda em meados da década
de 30 alguma tranquilidade em relação às perseguições étnicas que já ocorriam
no território alemão, pois o braço direito do Führer, o oficial Ernst Röhm,
líder das SA, até então era conhecidamente homossexual, o que garantia uma
mínima proteção àquelas pessoas, no entanto, no ano de 1934, na noite conhecida
como Noite das Facas Longas, a caçada aos homossexuais foi iniciada, quando
dezenas de membros do partido nazista foram mortos, inclusive Röhm, de quem cujo
próprio Führer temia um golpe militar, desencadeando então a partir dessa
retomada a unificação das polícias alemãs e a perseguição oficial a judeus,
comunistas, ciganos, deficientes e, portanto, aos homossexuais.
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Foto: Luciane Pires/Divulgação |
Enquadrados então
como aberrações de mais baixo escalão, inclusive entre os próprios presos do
regime nazista, os homens identificados como homossexuais carregavam em seus
uniformes o tecido na forma de triângulo, de cor rosa, cujo simbolizava então a
sua condição e sua diferenciação entre os demais presos. A trama aborda a dor e
o sofrimento sofridos por esses homens que, assim como outros grupos
perseguidos, infringiam a lei nazista apenas por existirem, por demonstrarem carinho
e afeto, mesmo que entre os próprios oficiais houvesse também homossexuais,
pois na sua hipocrisia, a raça ariana era imune a tais degenerações.
São aproximadamente
duas horas de espetáculo, das quais grande parte se passa dentro do campo de
concentração nazista de Buchenwald, onde as dores e as transformações
provocadas pela agonia vivida pela personagem principal Max (Marcelo Ádams) acontecem.
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Foto: Luciane Pires/Divulgação |
Com cenas impactantes de execuções e humilhações desempenhadas pelos oficiais nazistas, atuações soberbas de um elenco admirável, também com momentos por ora leves e descontraídos, porém seguidos de angústia e de dor, o espetáculo foca no ser humano, na melancolia de uma vida aprisionada, mas também evidencia um sentimento tão comum, tão presente desde os primórdios da raça humana, o amor, mostra que, mesmo com os corpos imóveis, mesmo aprisionados, mesmo na dor e no cansaço, a mente sã não pode ser aprisionada e que, no fundo da imaginação, é possível tocar, acariciar e gozar os prazeres da paixão, que correntes, grades e uniformes não são capazes de trancafiar o desejo, e ainda conclui nos obrigando a refletir sobre a intolerância, o preconceito, provando a todos os espectadores que, mesmo um homem nazista, um homem judeu ou um homossexual, todos sofremos e amamos. No fim, todos somos iguais.
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Foto: Luciane Pires/Divulgação |
O espetáculo segue até o dia 16 de novembro no Teatro Renascença, sextas e sábados às 20 horas e domingos às 18 horas.
Ficha Técnica:
Direção: Margarida Peixoto
Dramaturgia: adaptação das obras literárias Bent, de Martin Sherman; Triângulo rosa: um homossexual no campo de concentração nazista, de Jean-Luc Schwab e Rudolf Brazda; e Eu, Pierre Seel, deportado homossexual, de Pierre Seel
Elenco: Marcelo Ádams, Frederico Vasques, Gustavo Susin, Gisela Habeyche, Alex Limberger, Pedro Delgado e Edgar Rosa
Instrumentista: Elda Pires
Figurinos: Antônio Rabadan
Cenografia: Yara Balboni
Trilha Sonora: Marcelo Ádams (Letras) Sobre Música de Kurt Weill
Iluminação: Maurício Moura
Maquiagem: Margarida Peixoto
Preparação Corporal: Angela Spiazzi
Produção: Cia Teatro Ao Quadrado
Assessoria de Imprensa: Adriana Lampert
Fotografia: Luciane Pires Ferreira
Programação Visual: Maria Eugênia Jucá
Realização: Prêmio Myriam Muniz De Teatro 2013 – Funarte – Ministério da Cultura
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