O festival Morrostock chega à sua
oitava edição neste ano e conta com uma programação musical que vai do hard
core ao rock psicodélico
Realizado na área rural de Sapiranga-RS, o
festival contempla público e artistas com um contato direto com a natureza,
onde estes acampam, comem ao ar livre, respiram o puro ar das montanhas e
apreciam uma gama eclética de músicos que passam pelo festival, além das
oficinas terapêuticas e de bio construção.
Nesse ano, dentre as várias atrações musicais
do festival, passou também pelo palco o polêmico grupo porto-alegrense Putinhas
Aborteiras, formado por meninas que manifestam suas indignações e seus
protestos através do funk de maneira inovadora, juntando o ativismo político a
esse gênero musical que sempre é lembrado pela sua vulgaridade e pelo apelo
sexual de suas letras.
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Putinhas Aborteiras no palco do Morrostock Foto: Ragi Sh |
Diferente do funk
carioca no discurso, porém muito próximo na sonoridade, o grupo que se auto intitula
anarco feminista aborda temas voltados ao universo feminino, porém um universo
que não estampa as revistas de moda e comportamento, mas sim suas aflições
perante o machismo entranhado na sociedade, reivindica o direito sobre o
próprio corpo e suas escolhas e também protesta contra a supremacia masculina
no cenário musical. Tal como outrora fora o movimento punk, uma música
considerada pobre, de mau gosto e marginal pela grande mídia e por uma classe
musical mais erudita, elas utilizam esse estilo de música, o funk, que também
ainda hoje é considerado de mau gosto e marginalizado por grande parte da
população, principalmente pela classe musicista, para abordar temas que consideram
pertinentes, mas negligenciados pela grande massa da sociedade capitalista e
machista, agredindo então dessa forma os olhares mais conservadores do público
de hoje. “A música acaba sendo um pretexto para nos manifestarmos e nos
organizarmos de forma política, desde o nosso visual, a nossa axila peluda, até
quando falamos sobre uma menina que foi tocada por alguém sem ela consentir,
tudo isto é política”, afirma uma das integrantes do grupo, de maneira
descontraída, porém incisiva, e que prefere não se identificar por questões de
segurança. Ainda também rebatem as críticas musicais que vem sofrendo, pois
para muitos, o desempenho musical é bastante precário, porém mais uma vez fazendo
alusão ao antigo movimento punk, afirmam que devem fazer música mesmo sem saber
fazê-lo, que não precisam ser verdadeiras musicistas para tal. “Estamos aí para
quebrar o estereótipo de que mulher cantora tem que cantar bem”, sustenta a
integrante, que prefere não se identificar.
Formado em meio ao movimento
de debate Encontro Dos De Baixo há aproximadamente um ano em Porto Alegre, o
grupo já gerou muita polêmica no cenário gaúcho. Recentemente apresentaram-se
no programa Radar da TVE-RS, cujo este, por ser um programa ao vivo, sofreu
censura que, de acordo com o grupo, partiu de dentro da própria emissora, o que
impediu então o programa de reproduzir em tempo real a performance do grupo,
sendo apenas divulgada a sua apresentação em horário alternativo e não ao vivo
como o seria. “Fomos convidadas a participar do programa para fins de debate e
contextualização devido à Marcha das Vadias, que aconteceria no próximo final
de semana, e não apenas para tocarmos nossas músicas” declara a integrante
conhecida como Cacau, no entanto durante o programa não fora exibida a sua
apresentação, indo ao ar na íntegra apenas na madrugada daquele dia, porém isso
não evitou protestos diversos de outros órgãos que, de acordo com elas, ainda
associavam o grupo ao candidato à reeleição do governo do estado. “A mídia em
geral, por ser ano eleitoral, nos usou para enfraquecer a candidatura do atual
governo, usou as Putinhas Aborteiras para tentar derrubar esse atual governo
como se nós fôssemos apoiadoras desse apenas por estarmos em uma TV pública. Somos
apartidárias, mas não apolíticas, e não apoiamos governo nenhum”, declara Cacau.
Afirmam também terem sido ameaçadas pelo público em geral após a exibição do
programa, pois o seu vídeo logo se encontrava disponível na internet, o que rendeu
milhares de acessos, gerando então muitos protestos através das redes sociais e
pelas ruas, onde dizem terem sido intimidadas.
No domingo do final de semana dedicado ao rock pesado, passaram ainda pelo palco do Morrostock as bandas Balde Sujo, Vultures HC, Devir, Atritos, Anomalia Social e Warkrust, fechando com sucesso o primeiro fim de semana do evento, que começou na sexta feira de maneira conturbada.
O Morro deslizou, mas
não caiu
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Paulo Zé, o chefe da produção Foto: Marcelo Cabala |
O festival que inicialmente
seria realizado no sítio Picada Verão, também localizado no município de
Sapiranga, teve uma drástica alteração na sua programação e localização. No
primeiro dia do festival, sexta feira dia 10 de outubro, a polícia impediu o
seu prosseguimento, enviando um contingente de viaturas e tropas para a
paralisação do evento, alegando portar uma lista com 50 assinaturas feita pelos
moradores próximos ao sítio, e que fora encaminhada ao Ministério Público,
reclamando o distúrbio ocasionado pela movimentação e pela música alta do
evento. No entanto, seria o quarto ano consecutivo que o festival é realizado nesta
localização, e até a véspera do evento, quinta-feira, ninguém da produção havia
sido informado sobre o descontentamento daquele grupo de moradores, tampouco
sobre a lista de exigências burocráticas apresentadas nesta ocasião. “Na
quinta-feira, dia 09, recebemos uma lista de documentos exigidos para fins de
autorização do festival, no entanto, era impossível a emissão destes documentos
em menos de 24 horas”, declara Paulo Zé, que é a principal cabeça por trás da
produção do festival. “Foi um golpe desleal de alguns moradores munidos de
preconceito e também de interesses políticos para impedir a realização do
festival, que já está na agenda cultural da cidade há anos e que tem apoio de
grande parte da população local”, afirma Paulo Zé. Devido então a essa súbita
paralisação, algumas bandas que se apresentariam na sexta-feira não o fizeram,
e o festival foi transferido para o Bar do Morro, lugar este onde tudo começou
há oito anos, junto ao morro Ferrabrás, também em Sapiranga. “Graças ao Bar do
Morro e sua administração nós podemos dar sequência ao festival, já que o lugar
também comporta espaço para acampamento e hoje possui toda a documentação
exigida para realização deste tipo de evento”, declara Paulo Zé. Depois de todo
o transtorno da remoção e da colaboração e compreensão do público presente, o
festival transferiu-se de lugar, porém as demais atividades programadas para o
sítio Picada Verão se mantiveram, tais como as oficinas em bio construção e
terapêuticas, pois as suas estruturas já estavam instaladas havia semanas e não
seria possível a sua remoção para o novo lugar. “Disponibilizamos um micro
ônibus para levar o pessoal que se inscreveu nas oficinas, saindo do Bar do
Morro para o sítio Picada Verão, pois ansiamos em manter a programação das
oficinas sem prejudicar os seus realizadores e o público”, afirma Paulo Zé.
As oficinas em bio construção consistem na elaboração de ferramentas sustentáveis, onde os participantes aprendem como reaproveitar materiais para elaboração de instrumentos variados; aprendem a compostagem de resíduos orgânicos; o manejo ecológico de bambu, dentre outras atividades, sempre focando na sustentabilidade. Já as oficinas terapêuticas são realizadas na Tenda Zen, espaço dedicado aos exercícios de meditação, Yoga, Tantra, dentre outras técnicas orientais, localizada também no sítio Picada Verão.
Para o último final de semana o festival ainda conta com nomes como Tequila Baby, Wander Wildner, Júpiter Maçã, entre outros artistas do rock nacional e internacional, fechando então a programação no domingo dia 19 com as bandas gaúchas Dingo Bells e Gustavo Telles e os Escolhidos, com muita natureza, sustentabilidade e música, na oitava edição deste festival que enriquece a cultura local do interior do Rio Grande do Sul.
Importantíssimo trabalho que contribui para o registro da história e memória do festival !! Parabéns e seja bem vindo sempre !
ResponderExcluirPor que eu so fui saber desse festival agora. Eu queria que aqui na minha cidade tivesse esses festivais felizes e cheios de amor. :*
ResponderExcluirNatália Borges, Sao Luis - MA.