É prática comum no rock e suas vertentes o saudosismo, aquela expressão de que “naquele tempo” era assim ou assado. Isso muitas vezes se mostra de um conservadorismo assustador, lembrando muito os reacionários de outrora, que por sua vez, reprimiam o rock e sua cultura, da mesma forma que muitos hoje, ditos roqueiros, o fazem com outros gêneros mais vulgares de música ou com nomes do rock moderno, apontando inúmeros motivos; falhas, de forma preconceituosa.
Fato é que, desde o fim dos anos 60, a expressão “o rock está morto” é dita por aqueles que veem na próxima geração uma “antítese” daquilo que eles mesmos consideravam sagrado no rock n’ roll, é típico de quem não aceita o moderno, o que possa vir, pois mesmo que hajam muitas críticas e falhas em qualquer movimento de vanguarda, sempre que há um grupo formando um novo comportamento cultural, é necessário uma análise séria para considerar se é um movimento legítimo e duradouro ou apenas mais uma moda efêmera da juventude. Lembremos que sempre fora assim, desde os anos 60, como dito, quando surgiram os grupos psicodélicos, os saudosistas das bandas de terno e franjinha diziam que “o rock morreu”, tal como a geração posterior à prog psicodélica dizia sobre esta, que o rock havia morrido, pois não existiam músicas com menos de 5 minutos nesse gênero, e assim através das décadas até hoje. A onda atual sempre é a antítese da anterior.
Pois então, seriam os anos 00 uma antítese dos anos 90? Acredito que, parcialmente, sim. Os anos 90 se caracterizaram pelo grunge, tendo no Nirvana a principal referência, e no seu frontman o guru, o mártir dessa geração. Acredito ainda que o Nirvana foi a última banda a mudar de fato o mundo, não apenas na música, mas o comportamento cultural como um todo. Foram pouquíssimas as bandas que realizaram tal feito, acho que precisamente foram: Elvis Presley, The Beatles, The Rolling Stones, Led Zeppelin, Black Sabbath, David Bowie, Bob Marley, Sex Pistols, Michael Jackson e por fim o Nirvana (quase não há artistas negros nessa lista, pois, devido ao racismo histórico, um gênero musical apenas atinge extrema popularidade quando gravado por um branco, mesmo que esse tenha sido criado pela cultura negra, desde o jazz e o rhythm blues, com exceção de Bob Marley e Michael Jackson apenas, porém todos sabemos o caminho que este percorreu), talvez podendo agregar ainda à essa lista nomes como Beastie Boys e até o Sepultura, o primeiro por ter ligado o rap à cultura de
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Clássico do Sepultura que ajudou a moldar o metal nos anos 90 |
Lembro que nesta análise avalio uma mudança drástica na cultura em geral, e não apenas na musicalidade em si. Por musicalidade teríamos de citar Jimi Hendrix, Kraftwerk, Van Halen, entre muitos outros que revolucionaram instrumentos, técnicas e formas de gravação. E também não apenas a estética, pois aí teríamos o Kiss como grande mania dos anos 70, e também o gênero emo core que, mesmo oriundo dos anos 80, se caracterizou não pela sonoridade nos anos 00, mas apenas pelo apelo visual (também extraído dos anos 80), que se provou com o passar dos anos ser um movimento extremamente fugaz.
Então, se os anos 90 se caracterizam pela sonoridade crua, distorcida, melancólica, agregado ainda ao metal cadenciado, funkeado, de longos dreads e inúmeras tatuagens, claro também pela ascensão definitiva do punk rock ao estrelato, com nomes como Green Day e The Offspring, o que esperar dos anos 00? Uma antítese explícita? Quase. Os anos 00 é uma década de nostalgia musical, pois os nomes que deram referência nesse período resgataram uma sonoridade bem mais antiga. No metal, não tivemos grandes inovações, talvez um pouco na banda Meshuggah, que apresenta um som de levadas rítmicas difíceis, também na banda Protest The Hero, que faz esse metal oriundo da influência dos anos 90 com suas modificações, se mostrando um nu metal muito melódico e progressivo, mas ambas sem apontar (por enquanto) um estilo reproduzido massivamente pelo mundo, mesmo que hajam subgêneros extraídos das misturas do nu metal com o emo core e outros estilos, tal como o denominado screamo, por exemplo, ainda assim se caracterizam por atingir nichos específicos de público, não apontando uma tendência cultural massiva, mas apenas características musicais particulares e um visual indefinido pelo gênero em si. Ainda temos as midiáticas Linkin Park, System of a Down e Limp Bizkit, que apenas adentraram a década de 00 reproduzindo um estilo iniciado nos anos 90, tal como o Slipknot, que apresentou uma estética bastante inovadora para a época, mas que já havia sido explorada por nomes como o do Kiss, já citado aqui, além de David Bowie, Marilyn Manson, King Diamond e até Alice Cooper, entre muitas outras, onde os artistas se apresentam como personagens de suas obras, incorporando máscaras e figurinos distintos. Uma novidade nesse sentido foi recentemente o surgimento da banda Ghost, que atingiu notório sucesso pelo visual explicitamente zombeteiro, com seu frontman incorporando uma versão satânica do papa católico, mas que musicalmente não apresentou nada excepcionalmente novo, a não serem as pitadas de canto gregoriano no seu metal/hard rock clássico. Também há a ascensão de bandas de características sinfônicas, mas em geral no metal, mais que em outros gêneros de rock, segue um saudosismo como nunca, tendo nos anos 80 e 90 as suas principais referências. Apesar de que aqui no Brasil, sabemos, as coisas demoram a chegar e acontecer, porém com o advento da internet hoje, isso já não é motivo de atrasos temporais em relação a um movimento cultural.
Mas e no rock n’ roll em geral? Sim, também a nostalgia é visível. A principal banda que deu origem a um gênero, a um comportamento e estilo reproduzidos pelo mundo todo, foi o The Strokes. Dizendo assim, quase dá pra incluir naquela lista de nomes que mudaram o mundo, não? Sim, quase, a não ser pelo fato de que, genuinamente, o The Strokes não apresentou uma “moda” inédita, pois o estilo musical e visual eram novidades na década, mas ambos têm uma origem bem mais antiga (o
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The Jam - ícone do punk mod nos anos 70 |
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Os Cascaveletes - banda fundamental do rock gaúcho, formada nos anos 80 |
Mas e o Muse? Por que Muse? Agora lhes digo o porquê:
O Muse é o que há de mais moderno no rock hoje em dia em se tratando de todas essas musicalidades exploradas através das décadas em geral. A banda nutre sua música com referências modernas, diferentemente desses outros grupos atuais citados, referências oriundas dos anos 90 principalmente, nomes como Radiohead, The Smashing Pumpkins e a melancolia desta década, associada a efeitos de guitarra evidentemente retirados de Rage Against The Machine, cuja banda possui um dos guitarristas mais criativos e originais dos anos 90, Tom Morello, genialidade evidente também no trabalho seguinte do músico, o Audioslave. Nos primeiros discos da banda, Showbiz e Origin of Simetry, nota-se uma semente plantada, um embrião que tomará forma nos anos seguintes, pois esses discos apontam uma banda promissora, com qualidade, já na tenra idade que tinham, por volta dos 20 anos. Showbiz teve um reconhecimento razoável, pois a banda era criticada por soar muito parecida com o Radiohead, fato claro na bela faixa Unintended, no entanto, o disco seguinte, Origin of Simetry, apresenta uma amadurecimento nítido, tendo em composições como Plug in Baby o cerne exemplar do estilo que explorariam com perfeição mais tarde, além de contar com uma versão incrível de Feeling Good, clássico eternizado pela voz de Nina Simone. O Muse já mostra a quê veio nesses dois primeiros discos, pois mescla de forma sublime momentos de peso e efeitos nas guitarras típicos dos anos 90, com a melancolia harmônica, principalmente pela voz de Matthew Bellamy, e ainda com linhas de baixo que lembram o new wave dos anos 80 e, como se não bastasse, também já mostra sinais da presença da música erudita em suas composições.
O jovem trio britânico mostra-se um fenômeno instrumental, ainda mais com o lançamento de Absolution, de 2003, cujo álbum definitivamente evidencia a sua qualidade técnica, tendo o vocalista e guitarrista se superando em faixas como Stockholm Syndrome, que possui um riff recheado de técnicas virtuosas, associado ainda ao seu vocal peculiar e aplicado, criando uma sonoridade nova, nem de perto explorada pelas outras bandas referenciais da década de 00 aqui citadas. O disco em si é uma revolução no rock do século XXI, se desenvolvendo dessa maneira, fazendo uso de recursos eletrônicos, sintetizadores e efeitos variados, com momentos de peso e vocais melancólicos, linhas de baixo precisas e características, e ainda com uma bateria que sabe se colocar nos momentos de calma e também nos momentos de frenesi, literalmente demonstrando alta qualidade de precisão e de porrada técnica o baterista Dominic Howard, ainda contando com arranjos de piano executados pelo cantor e guitarrista, fazendo uma mistura de elementos tão distintos que acabam criando uma identidade nova, como sempre ocorre. Mesmo em faixas como Time is Running Out, cuja possui o início marcado pelo baixo recheado de efeitos de Christopher Wolstenholme, que mais parece nos apresentar uma canção disco new wave dos anos 80, mas quando na verdade, se mostra uma faixa de refrão melodicamente emotivo, seguido de momentos de peso típicos dos anos 90. A faixa que apresenta o título do disco, Sing For Absolution, é a tipicamente comparável ao som do Radiohead, uma música extremamente melancólica com um vocal sofrido e uma letra taciturna e depressiva. Mas se há tantas referências, por que o som do Muse é tão único? Exatamente pelas fontes de referências que a banda explora de maneira inédita na década, já que nada se cria do zero. Eles resgatam um clima dos anos 90, junto de elementos eruditos clássicos, ainda com o pop dos anos 80 e um virtuosismo instrumental impressionante. A extrema aplicação técnica acompanhada das influências de Radiohead e Rage Against The Machine, além também do U2 e seus efeitos, talvez ainda a influência do Portishead com seu som peculiar dos anos 90, com certeza nomes oitentistas como Depeche Mode e New Order e até mais longe, com o Queen e sua refinada formação. O Muse então mistura o erudito, o peso e a melancolia dos anos 90 com efeitos desta década e dos anos 80, criando, portanto, uma nova concepção de rock anos 00, tendo em comum sim a exploração dos efeitos da década de 80 com essas outras bandas, mas aplicados de maneiras muito distintas, além da forma que a banda executa isso tudo, notavelmente forte e intensa no palco, mostrando o trio como uma unidade elementar. Há outros grupos dos anos 00 que também fazem uso do eletrônico com o rock e outros ritmos, inúmeros, e que atingiram sucesso, tal como o 30 Seconds to Mars do ator Jared leto (porém essa banda não apresenta nenhum elemento inédito além do fato de seu líder ser um renomado ator de Hollywood que, apesar da qualidade em alguns aspectos, se parece muito com as outras bandas contemporâneas intituladas de emo core, com mais visual carregado do que música, o que fez com que muitas destas acabassem por cair no esquecimento, mesmo possuindo algum caráter musical interessante, como é o caso de My Chemical Romance, por exemplo), também o Daft Punk, entre outros. Dos anos 90, temos grandes nomes como o Prodigy, além de cantores e demais artistas da cena pop que exploram essa mistura, porém a maioria destes não possui o conceito de banda de rock tradado aqui. Um ou outro hit também não são suficientes para tal caracterização de relevância cultural, avalia-se um trabalho através dos anos, com alguns discos e singles importantes lançados, tal como os outros nomes citados nesse texto possuem.
Esta identidade fica ainda mais evidente no lançamento de seu maior sucesso comercial, e também mais complexo disco até então, o Black Holes and Revelations, de 2006, onde a banda aborda temas mais intrigantes em suas letras, além da nítida evolução musical. O disco já começa com a
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Black Holes and Revelations, de 2006, álbum definitivo do século XXI |
Mas se esses discos são uma definitiva inovação no rock nos anos 00, os shows da banda são ainda mais surpreendentes. Lotando estádios e fazendo incríveis aparições em festivas de imensa magnitude, a banda no palco soa extremamente entrosada, reproduzindo ao vivo toda a energia transmitida em seus discos, mostrando toda a técnica aplicada pelos instrumentistas da banda, além de evidenciar a qualidade do canto de Bellamy, que executa o peso, os solos e as harmonias de sua guitarra magnificamente, ainda toca piano de forma majestosa e canta de maneira muito técnica e precisa, às vezes operística, com extrema qualidade. A banda no palco conta ainda com um quarto elemento, Morgan Nicholls, que executa piano, sintetizadores, vozes e às vezes linhas de guitarra e de baixo, contribuindo para que o show se torne um verdadeiro espetáculo para qualquer admirador de boa música. A conclusão desse imenso sucesso atingido pelos álbuns Absolution e Black Holes and Revelations pode ser vista no CD e DVD ao vivo lançados em 2008 chamado HAARP, concerto este que foi realizado em 2007 no estádio Wembley, em Londres, onde a banda toca seus maiores sucessos até então, provando de vez que é a maior banda dos anos 00 numa performance esplêndida e exuberante. Uma curiosidade nesse show é que o grupo inicia a apresentação com a última faixa do disco Black Holes... e encerra com a primeira deste, invertendo a lógica de apresentação do álbum.
Mas o que faz uma banda ser grande de verdade? É se manter no topo, é lançar mais e mais discos de qualidade, e com o The Resistance, de 2009, o Muse prova que não é um sucesso passageiro. O disco, que foi premiado com o Grammy de 2011 na categoria de Melhor Álbum de Rock, apresenta ainda mais complexidade que seus antecessores, além de sucessos comerciais e uma turnê de estrondosa magnitude e reconhecimento. O álbum, que é recheado de efeitos eletrônicos, apresenta ainda mais elementos eruditos, como na faixa United States of Eurasia, que possui uma passagem de piano ao final que remete a uma obra de Fredéric Chopin chamada Nocturne em mi bemol maior, além das orquestrações durante esta que também lembram a música do oriente médio, fazendo jus ao título da faixa, que nada mais é do que um continente formado por Europa e Ásia. De acordo com Bellamy, o título e o tema da música foram inspirados em um livro de Zbigniew Brzezinski, e ele ainda diz: "Brzezinski tem um ponto de vista sobre a população da Eurásia, Europa, Ásia e Oriente médio em geral, que precisa ser controlada pela América a fim de proteger seu suprimento de petróleo", disse o guitarrista e vocalista de acordo com o site Wikipedia. Essa música em questão já demonstra o grau de complexidade e audácia do álbum, que ainda conta com as faixas Exogenesis, uma obra sinfônica dividida em três partes que encerra o disco, além dos sucessos de Uprising, que soa como o eletro disco citado anteriormente, com uma letra que também aborda uma proposta de ação coletiva contra um ato de repressão praticado por alguma forma de poder, faixa marcada pela introdução de baixo recheado de efeitos e groove. Ainda temos a canção título The Resistance, que retoma um tema otimista e também é mais uma obra de composição complexa. Também o single Undisclosed Desires, cuja faixa é algo eletrônico, pop e dançante. Todo o álbum é de altíssima qualidade, mantendo um clima melancólico de seus trabalhos anteriores em Guiding Light, mesmo em meio às batidas e efeitos eletrônicos, além da já citada Exogenesis, que transmite melodias tristes e introspectivas de maneira muito intensa, encerrando o álbum num tom de tristeza e grandiosidade.
Após a avalanche de sucessos através dos anos e a quase unanimidade de críticas positivas sobre o álbum The Resistance, arrancando elogios até mesmo de Brian May, guitarrista do Queen, a banda lança então o seu sexto e mais recente álbum até o momento, The 2nd Law, de 2012, mantendo os arranjos orquestrais e o amplo uso de recursos eletrônicos. A faixa de abertura já mostra a síntese de elementos explorados pela banda, Supremacy, a qual possui um início marcado pela guitarra de Bellamy, ainda com arranjos orquestrais grandiosos e uma letra que mais uma vez aponta para uma figura representante de um poder opressor, como o próprio título sugere. O disco conta com faixas que seguem ainda uma postura mais pop, tal como Follow Me, mas se tratando do Muse, esse pop é recheado de vocais melancólicos e sintetizadores característicos. É destaque também a emotiva canção Explorers, cuja ao vivo apresenta o vocalista ao piano, se mostrando uma bela música de letra reflexiva. Também é notável a explícita inserção ao funk na faixa Panic Station, que é marcada pelo baixo forte, pelas guitarras e arranjos funkeados e pelo ritmo dançante. Ainda temos o baixista atuando como cantor principal na bela faixa Save Me e também em Liquid State. Survival é destaque por se tratar de uma obra complexa, com riffs marcantes de guitarra e orquestrações, cuja possui uma introdução apontada no disco como um prelúdio, sendo a mais erudita do álbum. Mas a principal faixa do disco e o seu maior sucesso, com certeza, é a música Madness, que explora efeitos eletrônicos exuberantes, lembrando um pouco o Depeche Mode, também o Queen dos anos 80 e até o velho Kraftwerk. A faixa possui um elemento diferenciado executado pelo baixista Christopher Wolstenholme, um protótipo construído junto ao seu baixo que reproduz esse som característico marcante na música, ela ainda apresenta um belo e elaborado solo de guitarra, além da harmonia vocal muito melódica, com um desempenho ao final definitivamente emocionante, onde Bellamy atinge notas altas e difíceis. A faixa se desenvolve suavemente até atingir o seu clímax, fazendo jus ao status de principal sucesso do disco em questão. A letra aborda uma relação amorosa que, de acordo com o site Wikipedia, teria sido inspirada após uma briga entre Bellamy e sua noiva na época, a atriz Kate Hudson. O casal ficou junto por quatro anos e têm um filho, este que é homenageado na faixa Follow Me.
Em 2013, a banda lança mais um trabalho ao vivo, nos formatos de CD/DVD e Blu-ray, intitulado Live at Rome Olympic Stadium, gravado em julho de 2013 em Roma e lançado mundialmente com versões inclusive para o cinema, em um show prestigiado por mais de 60 mil pessoas. Gravado com câmeras de alta tecnologia, o show apresenta a banda no seu auge, dando enfoque nos dois últimos trabalhos lançados, mas levando o público ao delírio com faixas como Plug in Baby e Knights of Cydonia. O show explora bastante o lado tecnológico da banda, com muitos efeitos e recursos, criando um espetáculo de proporções megalomaníacas, tal como o U2 faz há pelo menos 20 anos, no entanto, a performance da banda, suas habilidades técnicas e a energia que transmite, nada disso é afetado, pelo contrário, o concerto atinge dimensões espetaculares, com imensas telas de projeção e iluminação deslumbrante, com ainda inserções teatrais; esquetes que interagem com o tema de algumas das músicas, que expõe personagens imersos em uma vida executiva e burguesa capitalista moderna, onde acabam engolidos. Desde o início do concerto, o tema sobre energia e sustentabilidade é abordado, fazendo eco a algumas letras executadas no show, além de pôr líderes mundiais pra dançar no telão. Há ainda a aparição de uma espécie de balão em formato de lâmpada, de onde sai uma trapezista suspensa sobre o público em uma bela performance, que surge no momento em que a banda executa a faixa Guiding Light, agregando de forma lúdica o show.
Recentemente, a banda divulgou na rede dois vídeos de músicas novas que farão parte do disco a ser lançado em junho de 2015 chamado Drones. De acordo com o site Wikipedia, Bellamy afirma que o disco terá uma sonoridade mais voltada aos trabalhos antigos da banda, mais simples e pesado,
abordando como tema um futuro distópico, onde drones são utilizados como armas operadas ainda por outros drones, transformando os seres humanos, por sua vez, também em drones, em uma visão metafórica onde todos são máquinas operadas à distância com fins assassinos e destruidores. A primeira música divulgada chama-se Psycho, lançada como single e vídeo clip simultaneamente, fazendo uma crítica explícita ao sistema militar que transforma jovens em soldados psicóticos, sonoramente parecendo muito mesmo com os primeiros trabalhos da banda, pesado e direto, com efeitos moderados, inclusive tendo o seu riff principal já executado em shows antigos da banda. A segunda faixa apresentada soa mais eletrônica, mais melódica, e chama-se Dead Inside. Ela aborda um tema que vai diretamente de encontro ao título do disco e sua proposta, criticando um futuro pós-moderno onde o indivíduo é vazio de identidade e de sentimento. Uma bela faixa que aponta que o Muse seguirá apresentando alta qualidade em seus discos, e que definitivamente, é o principal nome do rock surgido após os anos 2000.
Conclusão
Em suma, gostos se discutem, se alteram, se aperfeiçoam, e principalmente, se respeita o do próximo, porém há fatos que vão além do simples gosto pessoal de um indivíduo, e uma análise histórica sobre as culturas e o comportamento humano, a linguagem e tudo que se refere a antropologia, vai além de visões rasas baseadas em sentimentos e opiniões particulares, e no rock n’ roll não é diferente. Aqui a intenção foi expor fatos que aconteceram ao longo dos anos, e que vem acontecendo sempre, dentro dessa cultura musical arrebatadora do século XX e como ela entrou no século atual, com pitadas de gosto pessoal, claro. Sobre o Muse, não é possível dizer que esta banda determinou os rumos do rock na atualidade, que difundiu uma grande moda, que revolucionou o mercado, já foi dito aqui que o último ícone legítimo do rock foi o Nirvana, porém nos tempos atuais, não sabemos se será possível uma nova revolução de tamanha magnitude, pois o acesso à informação está muito modificado, a internet sim revolucionou o mercado da música como um todo, e não parece haver condições de suceder tal impacto novamente tão cedo. Bandas clássicas seguem sendo as campeãs de bilheteria, e discos, já não se vende nem um quinto do que se vendia antigamente. Esteticamente, com exceção das clássicas tendências que seguem, a moda e o comportamento que os jovens ouvintes de rock assumiram nos últimos anos se tornaram tão efêmeras quanto qualquer outra moda difundida pela grande mídia, que antes, devido à sua contestação ao gênero em questão, acabava por contribuir para a popularidade de bandas e personalidades polêmicas, mas hoje já não é assim, porém crises “impossíveis” também já foram superadas no passado. No Brasil, definitivamente, a alienação alimentada pelos veículos de comunicação aumenta ainda mais o vácuo existente na cultura do jovem, onde os poucos espaços que se arriscam a apostar em nomes locais, acabam perdendo audiência e dinheiro. Rádios especializadas não dispensam os clássicos, impondo em suas programações apenas as novidades que lhes pagam as contas, e na televisão, hoje quase não há programas dedicados à musicas que motivem o pensamento e a emancipação do indivíduo através deste. Hoje, muitos dos próprios roqueiros pregam discursos reacionários e totalmente opostos ao que outrora fora uma postura roqueira subversiva. O rock n’ roll começou como uma ameaça rebelde. Foi assimilado, mas logo depois novamente rebelou-se, depois foi de novo incorporado e assim através dos anos até recentemente, porém hoje é muito difícil, quase impossível, apontar as tendências culturais que poderão predominar daqui a dez anos nesse âmbito, sabemos apenas que, das grandes bandas surgidas no final dos anos 90 e que explodiram nos anos 00, são pouquíssimas as que enchem arenas e estádios pelo mundo afora, que consigam este feito hoje em 2015, sejam elas talvez apenas essas: Arctic Monkeys, Coldplay, Muse e Foo Fighters, porém este último teve um começo bastante particular, cujo foi muito impulsionado pela popularidade da ex banda de seu líder Dave Grohl, mas que acabou superando essa sombra da fama através da sequência de ótimos discos de rock, com muita energia, carisma e qualidade, enchendo cada vez mais shows por todo o mundo, sempre elogiada pelas maiores figuras da história do rock n’ roll. Porém é fato que, das bandas citadas, o Muse é a mais inventiva, a mais complexa, a mais ousada e a mais grandiosa banda estourada nos anos 00, e que segue no ritmo de se tornar uma das maiores de todos os tempos. Mas isso só o tempo dirá.
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