segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Minha Ideia de Diversão - Will Self - romance inglês - 1993

Crueldade, surrealismo. Um perfil insano traçado de uma personagem quase impossível de conceber em um mundo real, no entanto, ao mesmo tempo, tão intrincada no cotidiano de uma Inglaterra por ora pacífica, simplista, retratada dos altos de penhascos onde veranistas tiram suas tranquilas férias em trailers alugados, inalando a maresia e uma paz interiorana dos anos 70, contrastando com uma caótica e corporativista Londres do marketing exacerbado inchado de tantas empresas e produtos efêmeros. Dentre isto tudo, um jovem, que vira homem, que pode ser louco, maníaco, esquizofrênico, mas que se auto denomina "eidético", uma condição única de visão ultra dimensional, de memória fotográfica, de leitura dinâmica e de um poder imaginativo que transcende qualquer noção  mística de paranormalidade. E como se não bastasse, o guia, guru que direciona, oprime, esclarece e compartilha deste dom  com a personagem, que o conhece e o inicia ainda nos primeiros anos de vida, que o segue para a vida adulta,  às vezes parecendo ser o ser maléfico que oprime, às vezes atuando como pai adotivo, às vezes como o professor arbitrário, com um vocabulário único e vestimentas elegantíssimas, sempre carregado de seus charutos fumacentos. Este ser no livro, entre outros nomes, chama-se O Controlador Gordo...
Desenvolvido de maneira muito original, criando um diálogo bastante pessoal entre o protagonista e o leitor, Minha Ideia de Diversão é um livro bizarro e por que não, genial. Escrito de forma inteligente, alternando o texto entre o vulgar e o marginal, para o requintado e o intelectual, cheio de citações literárias, adjetivos absurdos e imagens quase inimagináveis, ele te confunde, te desdobra, te faz rir, te surpreende e te enoja, porém com um ritmo de prosa ligeiro e instigante, comparado inclusive por críticos a Shakespeare, tornando a obra indispensável para quem acha que já leu de tudo.

Disse o autor que queria escrever um livro que assustasse as pessoas, para mim, a catarse foi causada pela confusão mental diante de imagens surrealistas, que te assustam pela complexa descrição detalhada da loucura, às vezes te confortando pela possibilidade de alucinação, e também às vezes, te tornando cúmplice da crueldade e da perversidade, aberrações talhadas como desejos comuns de uma mente simplesmente solitária e inquieta.

Pesquise sobre a obra e seu autor, vale muito a pena!!

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