terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Mary Shelley's Frankenstein - 1994

 Longe de ser a melhor adaptação literária da história de Hollywood, ainda assim o filme cumpre bem sua função, mesmo com o excesso de pirotecnia, alguns exageros na maquiagem (na criatura feminina ao menos), um certo imediatismo cronológico e um bocado de cenas pomposas, talvez desnecessárias, podendo dedicar o sagrado tempo da película aos confrontos, diálogos e demais situações de caráter psicológico das personagens, e talvez à algumas cenas de susto, mesmo assim o filme emociona, resgata o teor melancólico, obscuro e extremamente infeliz da história original. A adaptação de Kenneth Branagh (Harry Potter E a Câmara Secreta; Thor), que ainda conta com a produção de Francis Ford Coppola, se esforça muito em ser fiel ao romance de Mary Shelley, apesar da sua própria interpretação como o personagem central Victor Frankenstein deixar um pouco à desejar, no entanto, o elenco ainda conta com Helena Bonham Carter (Harry Potter E o Enigma do Príncipe; Sweedy Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet), que sempre se adéqua  aos papéis fantásticos e sombrios que lhe permitem, e ainda com o mestre indiscutível Robert De Niro, que incorpora a criatura, dando-lhe o devido caráter depressivo, soturno e repugnante que, mesmo sob toda a maquiagem tosca, é evidente a performance talentosíssima do mestre, que tudo o que faz no cinema o faz com maestria e excelência, arrancando lágrimas de fato ao final de sua história de terror e melancolia. Obviamente muito já se fez no cinema sobre a obra de Mary Shelley, este romance que, sem sombra de dúvida, é um dos maiores da história da literatura, que chocou a classe literária na época de seu lançamento, pois mostrava uma história de terror, de desgraças familiares, de rejeição, de amor e ódio nunca antes vista, principalmente pela tenra idade que tinha Shelley quando concluiu a sua obra. Muitas foram as reinterpretações do clássico, muitas dessas distorcendo o teor original, a caracterização das personagens, porém não se pode afirmar que esta seria a melhor investida no cinema sobre o livro em questão, mas pode-se sim afirmar que o filme remonta em parte a agonia, a profunda depressão, a vida em desgraça e a obstinação de ambos protagonistas, a sede de vingança e o desamparo sofridos pela criatura, a loucura cega pela exploração do desconhecido por Frankenstein, tudo isto sob o frio obscuro do hemisfério norte. A obra não almeja a perfeição, com cenários por ora um pouco teatrais, principalmente no seu início em Genebra, com uma maquiagem e caracterizações imperfeitas nos detalhes, mas é fiel em parte ao clima do romance original, arrancando lágrimas e suspiros, mesmo daqueles que já leram o livro, pois estes sabem que, mesmo em parte, o pouco que se obtenha de êxito em recriar o aspecto original e a melancolia da clássica publicação, já é o suficiente para apertar o peito e chorar pela dor da criatura desolada e abandonada à sua própria ignorância e detestável existência.


Nenhum comentário:

Postar um comentário