terça-feira, 13 de outubro de 2015

Sepé Tiaraju - Romance dos Sete Povos das Missões


Dedico este livro a todas as minorias raciais que nesta e noutras regiões do globo lutam por sua dignidade e sobrevivência. Alcy Cheuiche


  Não creio ser apto para fazer uma resenha verdadeira desta obra, posso dizer apenas que é magnífica, histórica e emocionante, contando desde os tenros dias da personagem narradora em sua cidade natal, Amsterdã, toda a aventura cruzando o Atlântico ainda com 15 anos de idade na companhia fiel do exímio timoneiro, a personagem chamada Bel Ami, que viria a ser também um dos heróis da história; a chegada na América, com a passagem trágica pela Ilha de Páscoa; a conversão à doutrina jesuíta, e por fim, a viagem ao sul da América, desde o Peru, passando por Buenos Aires até o destino final, as Missões do Rio Uruguai. Mas o emocionante mesmo é a altivez e a bravura da personagem que dá título ao livro, fazendo umedecer os olhos do leitor mais atento e sensível nos momentos em que mais intensa se torna a narrativa, tal como quando o jovem índio guarani é eleito pelo povo o novo Corregedor de São Miguel, sendo o seu discurso perante os demais líderes um dos grandes momentos da obra; também quando do seu resgate em Buenos Aires, onde graças ao timoneiro Bel Ami, o padre Miguel, ou Michael, salva o seu pupilo da morte certa pela forca nas mãos dos “civilizados” da cidade portuária, sendo tal operação fatal para o velho marujo, que tanto ensinou ao jesuíta. Mas ainda mais emoção é alçada à imaginação do leitor quando, por fim, se travam as sangrentas batalhas dos povos livres das Missões contra os exércitos de Espanha e Portugal, que almejavam invadir e destruir as cidades à esquerda do rio Uruguai, expulsar o seu povo e afanar suas riquezas, após a assinatura do maldito Tratado de Madrid em 1750, e na figura de Sepé Tiaraju os índios resistem bravamente, até que não era mais possível enfrentar com lanças e flechas os mosquetes e canhões europeus, tombando então o grande líder, talvez o maior, o mais bravo e justo dos líderes desta terra que se orgulha pelos motivos errados.
 Lembro o discurso emocionado do autor e professor Alcy Cheuiche na Feira do Livro de Porto Alegre, relatando a tragédia; o absurdo desumano que foi o massacre proferido pelas tropas aliadas ao povo das Missões, que viveu livre por mais de cem anos em sua sociedade socialista e cristã, lendo o trecho final do livro no evento segurando as lágrimas, no momento em que tomba o grande herói guarani e símbolo da resistência. Ao menos hoje, mais de duzentos anos após a sua morte, a história de Sepé Tiaraju é recontada, envolta em lendas e fatos, através da literatura e da arte em geral, mas como ainda não se produziu um filme de longa metragem digno de tamanha saga heroica? Enfim, é nosso dever garantir que essa história nunca seja esquecida e que se valorize os verdadeiros heróis desta sociedade construída sobre o sangue indígena.

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