Recentemente, o jornal inglês The Guardian publicou uma extensa e rica matéria sobre o pontapé inicial de toda a mitologia de Tolkien, um poema datado de 1914 em que o então jovem escritor concebe a gênese de sua literatura, intitulado A Viagem de Éarendel, A Estrela Vespertina, onde o autor descreve um marinheiro imaculado que sobe aos céus com sua nau, transformando-se em uma estrela, explicando de maneira mágica o surgimento da Estrela D’Alva, também chamada Estrela Vespertina. Segue abaixo uma parte do poema original e a tradução do site brasileiro Valinor:
Éarendel sprang up from the Ocean’s cup
In the gloom of the mid-world’s rim;
From the door of Night as a ray of light
Leapt over the twilight brim,
And launching his bark like a silver spark
From the golden-fading sand;
Down the sunlit breath of Day’s fiery Death
He sped from Westerland.
In the gloom of the mid-world’s rim;
From the door of Night as a ray of light
Leapt over the twilight brim,
And launching his bark like a silver spark
From the golden-fading sand;
Down the sunlit breath of Day’s fiery Death
He sped from Westerland.
Éarendel ascendeu-se sobre a beira do Oceano
Na escura borda do limiar do mundo;
Pela Porta da Noite como um facho de luz
Avançou pela orla do crepúsculo,
E lançando sua barca como um brilho de prata
Da dourada e desvanecida areia;
Desceu pelo ar da flamejante morte do dia
Ele partiu das Terras do Oeste.
Na escura borda do limiar do mundo;
Pela Porta da Noite como um facho de luz
Avançou pela orla do crepúsculo,
E lançando sua barca como um brilho de prata
Da dourada e desvanecida areia;
Desceu pelo ar da flamejante morte do dia
Ele partiu das Terras do Oeste.
Com clara influência da poesia de Percy Shelley, e muitas referências da cultura nórdica e celta, o jovem Tolkien a partir daí criou o mundo épico que veio influenciar tantos escritores, cineastas e músicos nos próximos cem anos. Já nessa primeira obra, ele demonstra a intenção de explicar fenômenos naturais através de histórias mágicas, pois o movimento que a nau de Eärendil executa no céu, como é retratado mais tarde no livro O Silmarillion, representa o movimento do planeta Vênus, que é chamado também de Estrela Vespertina, assim como o faz com o surgimento do sol, da lua, das demais estrelas, dos mares e de quase tudo o que existe na terra, chamada de Arda em sua criação, desde o seu surgimento, a origem da vida de seus habitantes, além do relato das guerras através das eras; de grandes feitos de personagens e suas histórias, até o fim da Guerra do Anel e o início da Quarta Era.
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J. R. R. Tolkien no exército/WEB |
Até então, era comum entre os leitores conceber como marco inicial da mitologia o livro O Hobbit, primeira publicação de seu autor, datada de 1937, no entanto, a descoberta desse manuscrito de 1914 remete e comprova a origem de tudo, em meio ao iminente terror da Primeira Guerra Mundial que estourava, quando então o jovem acadêmico alista-se no exército, ainda recém aperfeiçoando seus estudos filológicos e as inquietações de sua mente criativa. Também no prefácio da publicação póstuma que foi o livro O Silmarillion, editado e organizado por seu filho Christopher Tolkien e lançado quatro anos após a sua morte em 1977, este retrata o quão antigos são os registros que compõe essa obra, que remontam a 1917, em meio às dificuldades em que foram concebidos, pois então o jovem tenente e escritor se encontrava nas trincheiras da guerra. “Na realidade, embora na época não se chamasse O Silmarillion, ele já existia meio século atrás, em cadernos velhíssimos podem ser lidas as versões iniciais das histórias mais importantes da mitologia, muitas vezes escritas às pressas, a lápis”, escreve Christopher então no prefácio do livro, ainda salientando que, mesmo que não houvesse o publicado em vida, seu pai nunca o abandonara, pois sempre mantinha a sua atenção na obra, também devida a grande dificuldade de organização e coerência que deveria ser mantida em referência à publicação que, nos anos 70, fora um sucesso estrondoso, mesmo tendo sido lançado 20 anos antes, rendendo finalmente renome internacional ao grande escritor, a trilogia O Senhor dos Anéis, onde há muitas indicações de fatos e histórias que depois foram organizadas e retratadas de maneira detalhada em O Silmarillion. Seu pai ainda deixou um vasto material inédito, que desde a sua morte, Christopher vem editando e lançando aos poucos. Um destes é a compilação de contos chamada Contos Inacabados lançado em 1980, que abrange grandes histórias entre as três eras de Arda, dentre outras obras que não se limitam a mitologia da Terra Média.
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Contos Inacabados da editora brasileira Martins Fontes/Capa John Howe |
Música
Foram muitos os artistas que se influenciaram pela obra de Tolkien nos idos dos anos 70. Músicos como o grupo de rock inglês Led Zeppelin foi um destes, além de inúmeras outras bandas desse período que, por adotar uma característica mágica, onde magos, hobbits e anões fumam seus cachimbos, também as inúmeras referências ao folclore europeu; o visual descrito das paisagens e personagens, um senso de liberdade nômade que emergia da história, além da bela poesia que complementa a prosa da obra, a partir do final dos anos 60, a geração hippie se identifica com todo o mundo mágico, místico e heroico da saga na Terra Média criada por Tolkien e que germinou frutos em distintos artistas em suas respectivas áreas do entretenimento e da cultura mundial.
Segue abaixo trecho da música Misty Mountain Hop da banda Led Zeppelin, onde além do título, que refere-se às Montanhas Nevoentas na tradução brasileira, trata claro da realidade dos jovens da geração daquele período:
So I've decided what I'm gonna do now
So I'm packing my bags for the Misty Mountains
Where the spirits go now
Over the hills where the spirits fly
Numa tradução livre ficaria:
Então eu decidi o que vou fazer agora
Então estou fazendo minhas malas para as Montanhas Nevoentas
Para onde os espíritos se vão agora
Sobre as colinas onde os espíritos voam
E segue o link da faixa:
A referência nesta faixa é bastante sutil, apesar do título ser direto, porém há outras músicas do grupo que também fazem referência a obra de Tolkien. Talvez a mais evidente seja a faixa The Battle of Evermore, uma canção folk com uma harmonia tradicional e que tem toda a sua letra inspirada no romance O Senhor dos Anéis. Segue um trecho da mesma:
Queen of light took her bow
And then she turned to go
The prince of peace embraced the gloom
And walked the night alone
Oh, dance in the dark of night
Sing to the morning light
The dark lord rides in force tonight
And time will tell us all
Na tradução livre:
A Rainha da luz pegou seu arco
E então voltou-se para partir
O Príncipe da Paz abraçou a melancolia
E caminhou sozinho à noite
Oh, dance na escuridão da noite
Cante para a luz do amanhecer
O Senhor escuro cavalga em vigor esta noite
E o tempo nos contará tudo
Abaixo o link da faixa:
Mais tarde, já nos anos 90, a banda alemã de heavy metal Blind Guardian vai mais longe, gravando um álbum conceitual, todo inspirado na obra O Silmarillion, chamado Nightfall in Middle-Earth, lançado em 1998, retratando através de suas letras algumas passagens relacionadas a distintos capítulos do livro, de maneira livre, porém coerente, resultando numa obra admirável, desde a arte de sua capa, que ilustra o momento em que Lúthien e Beren, o primeiro casal oriundo da união das raças de homens e elfos, enfeitiçam o então primeiro senhor do escuro Morgoth e lhe roubam uma das três Silmarills, as gemas sagradas construídas por Feänor, e que outrora o próprio
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Capa do disco Nightfall in Middle-Earth da banda Blind Guardian |
Abaixo o link da faixa Noldor (Dead Winter Reigns), onde a banda narra a sofrida travessia dos Noldors abandonados por Feänor, que tiveram que cruzar as gélidas regiões nortenhas entre a terra de Aman e a Terra Média, sem navios ou suprimentos para atravessar o mar, tal como fez Feänor e sua prole, na loucura de seu orgulho e arrogância pela busca das gemas, abandonando seus parentes. Uma das mais belas faixas deste disco:
Há ainda inúmeras bandas de heavy metal cujas retiraram seus títulos da mitologia tolkieniana, são algumas delas: Gorgoroth, Amon Amarth, Cirith Ungol, Morgoth, Burzum, dentre muitas outras referências em músicas e discos de muitas outras bandas, na Europa e no resto do mundo, que a mitologia de Tolkien influencia desde os anos 50, mas que teve o seu auge popular nos anos 70. Todos estes títulos de bandas tratados aqui são originais dos idiomas criados por Tolkien na sua extensa obra.
Literatura
É notável o quanto J. R. R. Tolkien segue influenciando escritores bem posteriores à sua geração, assim como o fazem outros tantos escritores de literatura fantástica como ele, tais como Lewis Carrol, Bernard Cornwell, Geroge R. R. Martin e J. K. Rowling o fazem, fizeram e o farão enquanto a humanidade apreciar a arte da literatura épica e fantástica de altíssima qualidade. O grande escritor e roteirista criador das Crônicas de Gelo e Fogo, da qual é inteiramente baseada a série de TV Game of Thrones, da britânica HBO, admite ser um
grande fã de Tolkien, tendo relido várias vezes as suas obras, de onde tirou, dentre tantas outras referências históricas e culturais, inspiração para a concepção de seu grande romance, podendo hoje considerar que sua obra já superou em drama, em quantidade de detalhes de lugares e personagens, a grande mitologia de Tolkien, não obtendo talvez a mesma dimensão cronológica que O Silmarillion aborda em suas páginas, por exemplo, ou talvez não supere a poesia que tanto Tolkien esbanja em sua prosa, mas se sobressai sim nas questões sociológicas, na complexidade de seus personagens, no quão fiel à realidade medieval, à crueza do mundo, à barbárie da raça humana, às desgraças, aflições e amoralidade que compõe a história da sociedade humana desde sempre, sem definir fronteiras perenes entre heróis e vilões, fazendo com que seus leitores e tele-espectadores reflitam sobre suas próprias escolhas no mundo real, que tanto se parece com o mundo de As Crônicas de Gelo e Fogo, mesmo tendo seu enredo recheado de fantasia. Nesse caso, é possível dizer que sim, ao menos em muitos aspectos, o aprendiz superou o mestre.
Em entrevista cedida à revista Rolling Stone, publicada em junho de 2014, George R. R. Martin responde sobre se ficou preocupado com possíveis comparações que sua obra poderia levantar com a obra de Tolkien. “Na verdade não fiquei preocupado. A partir dos anos 1970, os imitadores apenas retraçaram os mesmos caminhos que ele, sem nada da originalidade e do amor que Tolkien tinha pelos mitos e histórias. Mas eu sempre fui considerado, pelo menos dentro do gênero, um escritor sério. Além disso, a história me pegou de uma maneira muito forte. Achei que meus livros podiam ter o tom cru e sujo da ficção histórica misturado a um pouco da magia e do fascínio da fantasia épica”, declara Martin à revista Rolling Stone. Também fala sobre a extrema violência das suas obras, contrastando com sua personalidade agradável, de acordo com a revista, respondendo se isso gera algum conflito sobre suas visões sobre poder e guerra. “A guerra descrita por Tolkien era pelo destino da civilização e pelo futuro da humanidade, e isso virou o padrão. Não tenho certeza se é um bom padrão, entretanto. O modelo de Tolkien levou gerações de escritores de fantasia a produzirem uma série infinita de lordes malignos e seus terríveis exércitos, todos sempre feios e vestidos de preto. Mas a vasta maioria das guerras através da história não foi assim. A Primeira Guerra Mundial representa um exemplo muito mais típico de guerra do que a Segunda – o tipo em que você olha depois e diz: Por que diabos estávamos lutando? Há apenas um punhado de guerras que realmente valeram o preço pago”, declara Martin à Rolling Stone, e continua. “Nasci só três anos depois do fim da Segunda Guerra. Você quer ser herói. Quer fazer algo, seja o Homem-Aranha lutando contra o Duende Verde, seja o norte-americano salvando o mundo dos nazistas. É triste dizer, mas acho que vale a pena lutar por algumas coisas. Os homens ainda são capazes de grande heroísmo. Mas eu não acho que sejam necessariamente heróis. Isso é algo que aparece bem nos meus livros: acredito em grandes personagens. Somos todos capazes de coisas boas e más. Temos anjos e demônios dentro de nós, e nossa vida é uma sucessão de escolhas” declara o grande escritor George R. R. Martin, que talvez não tivesse criado nada parecido com As Crônicas de Gelo e Fogo se não fosse o legado deixado pelas obras de Sir John Ronald Reuel Tolkien.
Há ainda inúmeras bandas de heavy metal cujas retiraram seus títulos da mitologia tolkieniana, são algumas delas: Gorgoroth, Amon Amarth, Cirith Ungol, Morgoth, Burzum, dentre muitas outras referências em músicas e discos de muitas outras bandas, na Europa e no resto do mundo, que a mitologia de Tolkien influencia desde os anos 50, mas que teve o seu auge popular nos anos 70. Todos estes títulos de bandas tratados aqui são originais dos idiomas criados por Tolkien na sua extensa obra.
Literatura
É notável o quanto J. R. R. Tolkien segue influenciando escritores bem posteriores à sua geração, assim como o fazem outros tantos escritores de literatura fantástica como ele, tais como Lewis Carrol, Bernard Cornwell, Geroge R. R. Martin e J. K. Rowling o fazem, fizeram e o farão enquanto a humanidade apreciar a arte da literatura épica e fantástica de altíssima qualidade. O grande escritor e roteirista criador das Crônicas de Gelo e Fogo, da qual é inteiramente baseada a série de TV Game of Thrones, da britânica HBO, admite ser um
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Ilustração de Morgoth/WEB |
Em entrevista cedida à revista Rolling Stone, publicada em junho de 2014, George R. R. Martin responde sobre se ficou preocupado com possíveis comparações que sua obra poderia levantar com a obra de Tolkien. “Na verdade não fiquei preocupado. A partir dos anos 1970, os imitadores apenas retraçaram os mesmos caminhos que ele, sem nada da originalidade e do amor que Tolkien tinha pelos mitos e histórias. Mas eu sempre fui considerado, pelo menos dentro do gênero, um escritor sério. Além disso, a história me pegou de uma maneira muito forte. Achei que meus livros podiam ter o tom cru e sujo da ficção histórica misturado a um pouco da magia e do fascínio da fantasia épica”, declara Martin à revista Rolling Stone. Também fala sobre a extrema violência das suas obras, contrastando com sua personalidade agradável, de acordo com a revista, respondendo se isso gera algum conflito sobre suas visões sobre poder e guerra. “A guerra descrita por Tolkien era pelo destino da civilização e pelo futuro da humanidade, e isso virou o padrão. Não tenho certeza se é um bom padrão, entretanto. O modelo de Tolkien levou gerações de escritores de fantasia a produzirem uma série infinita de lordes malignos e seus terríveis exércitos, todos sempre feios e vestidos de preto. Mas a vasta maioria das guerras através da história não foi assim. A Primeira Guerra Mundial representa um exemplo muito mais típico de guerra do que a Segunda – o tipo em que você olha depois e diz: Por que diabos estávamos lutando? Há apenas um punhado de guerras que realmente valeram o preço pago”, declara Martin à Rolling Stone, e continua. “Nasci só três anos depois do fim da Segunda Guerra. Você quer ser herói. Quer fazer algo, seja o Homem-Aranha lutando contra o Duende Verde, seja o norte-americano salvando o mundo dos nazistas. É triste dizer, mas acho que vale a pena lutar por algumas coisas. Os homens ainda são capazes de grande heroísmo. Mas eu não acho que sejam necessariamente heróis. Isso é algo que aparece bem nos meus livros: acredito em grandes personagens. Somos todos capazes de coisas boas e más. Temos anjos e demônios dentro de nós, e nossa vida é uma sucessão de escolhas” declara o grande escritor George R. R. Martin, que talvez não tivesse criado nada parecido com As Crônicas de Gelo e Fogo se não fosse o legado deixado pelas obras de Sir John Ronald Reuel Tolkien.
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Feänor enfrenta Gothmog, o senhor dos balrogs de Morgoth/Bob Greyvenstein |
Cinema
A grande popularidade que o escritor esbanjou nos idos dos anos 70 foi restaurada com força no começo do século XXI, pois então o diretor Peter Jackson decide apostar no romance épico, adaptado para as telas de cinema de maneira ousada. O que poderia ter sido um grande risco e um grande fracasso se mostrou na verdade um tremendo sucesso, arrebatando uma legião de novos fãs à literatura, desencadeando uma cultura popular e participativa nunca antes vista pelos remanescentes da família Tolkien, parecida com o que há também em relação às sagas Star Wars e Harry Potter, com inúmeros fóruns de estudos e discussões sobre a obra no vasto mundo da internet, e que até hoje, mesmo
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A Sociedade do Anel/WEB |
Mesmo em meio a toda essa divergência, gerada entre os produtores dos filmes, dos jogos e demais artigos vinculados à mitologia de Tolkien, com os remanescentes de sua família, é notável a inclusão que esses artigos fazem, cada vez mais, de novos leitores entusiastas na sua literatura, sendo impossível também negar a qualidade dos filmes em seu formato, mesmo que estes se apeguem mais ao visual, ao som e a ação, do que com a filosofia e a poesia da obra literária. Muitos dessa geração tão somente conheceram o trabalho do escritor através da trilogia O Senhor dos Anéis para o cinema, o que desencadeou uma nova febre, que por sua vez, incomoda Christopher e sua família, já que também é notável a intromissão e aborrecimentos que muitos destes fãs geram a seus criadores, tal como acontece com George R. R. Martin e J. K. Rowling, mas que rendeu um renome ainda mais vasto ao legado de seu pai, e que não tão cedo será esquecido.
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O dragão Smaug ataca Esgaroth/John Howe |
Em ambas as trilogias dirigidas por Peter Jackson, O Hobbit e O Senhor dos Anéis, os recursos digitais para a caracterização das personagens e cenas de ação são abundantes, mas não chegam a prejudicar o curso do filme em si, mesmo que em ambas as trilogias, a quantidade de alterações feitas pelo diretor é excessiva. A omissão de personagens por ora importantes; a criação de outras, inexistentes nos livros, também cenas e fatos que, por uma questão obviamente de tempo, são omitidas na história dos filmes, ainda que não agridam demasiadamente o curso geral da saga. Contudo, muitas são as discrepâncias, o que é natural em uma adaptação cinematográfica, pois o fã mais atento deve considerar o filme como uma obra independente em si, pois é impossível a total fidelidade nos mais variados aspectos de uma obra literária adaptada para o cinema, no entanto, é possível apontar como graves algumas das alterações feitas, pois há a nítida “invenção” de fatos e acontecimentos que, em nenhum momento, são sugeridos nos livros, o que enfraquece o caráter das personagens, dando um apelo extremamente comercial a inúmeras partes do enredo, como por exemplo, quando Gollum joga fora o suprimento de lembas, o pão élfico de viagem, nos altos das Montanhas da Sombra, acusando Sam de ter os comido sozinho. Isso não acontece nos livros, e tal fato corrompe a personalidade de Frodo, que fica do lado de Gollum e que nas telas se mostra um indivíduo fraco, mas que nos livros apresenta muito mais virtudes como um hobbit diferenciado que era.
Visualmente, os filmes cumprem muito bem os seus papéis, tanto os cenários, onde a maioria das locações foi feita na Nova Zelândia, país de origem do diretor, quanto na caracterização de figurinos e aparência das personagens, é notável o resultado positivo. Desde os orcs, názguls, elfos e demais criaturas da Terra Média, quanto as personalidades distintas e o aspecto repugnante da criatura Gollum, que outrora na história era conhecido como Sméagol, são bastante convincentes, sendo fiéis a intenção descritiva do autor em suas páginas. Claro que, desde os anos 70, são inúmeras as ilustrações baseadas na obra de Tolkien, o que facilitou a concepção para os filmes, e ainda por contar também com a colaboração na produção visual do desenhista John Howe, responsável pelas mais famosas ilustrações da mitologia tolkieniana, que ilustram várias edições de seus livros pelo mundo.
O Hobbit, por ser a trilogia mais recente, conta com mais recursos digitais do que seu antecessor, no entanto, não o supera em nenhum aspecto, tendo no seu segundo volume A Desolação de Smaug o pior resultado entre os seis filmes. Há ainda o fato de o livro ser publicado em um volume único, mais simples e menor que O Senhor dos Anéis, porém rendendo também três filmes de duração quase igual a este, por isso, há inúmeras cenas desnecessárias e apelativas, mas que mesmo assim, é possível dizer que fez jus a fama e a qualidade da trilogia que o antecedeu, tendo na sua conclusão, o título A Batalha dos Cinco Exércitos, um ótimo encerramento com muita ação do começo ao fim, principalmente para aqueles que optam pela exibição em 3D nas salas de cinema, o que rende momentos eufóricos durante a sessão, deslumbrando voos rasantes do grande dragão Smaug em meio à cidade de Esgaroth em chamas, além das batalhas entre os exércitos de orcs, elfos, anões, homens e águias na cidade de Valle, em frente à Montanha Solitária, rendendo, ao menos visualmente, uma ótima experiência para os fãs das adaptações para o cinema, e também para os fãs de filmes de ação e fantasia em geral. Em suma, os filmes em si obtiveram êxito em muitos aspectos, no entanto, o drama das personagens e suas raízes são desvalorizadas. Muito pouco da essência verdadeira da obra nos livros é capturado nas telas.
Visualmente, os filmes cumprem muito bem os seus papéis, tanto os cenários, onde a maioria das locações foi feita na Nova Zelândia, país de origem do diretor, quanto na caracterização de figurinos e aparência das personagens, é notável o resultado positivo. Desde os orcs, názguls, elfos e demais criaturas da Terra Média, quanto as personalidades distintas e o aspecto repugnante da criatura Gollum, que outrora na história era conhecido como Sméagol, são bastante convincentes, sendo fiéis a intenção descritiva do autor em suas páginas. Claro que, desde os anos 70, são inúmeras as ilustrações baseadas na obra de Tolkien, o que facilitou a concepção para os filmes, e ainda por contar também com a colaboração na produção visual do desenhista John Howe, responsável pelas mais famosas ilustrações da mitologia tolkieniana, que ilustram várias edições de seus livros pelo mundo.
O Hobbit, por ser a trilogia mais recente, conta com mais recursos digitais do que seu antecessor, no entanto, não o supera em nenhum aspecto, tendo no seu segundo volume A Desolação de Smaug o pior resultado entre os seis filmes. Há ainda o fato de o livro ser publicado em um volume único, mais simples e menor que O Senhor dos Anéis, porém rendendo também três filmes de duração quase igual a este, por isso, há inúmeras cenas desnecessárias e apelativas, mas que mesmo assim, é possível dizer que fez jus a fama e a qualidade da trilogia que o antecedeu, tendo na sua conclusão, o título A Batalha dos Cinco Exércitos, um ótimo encerramento com muita ação do começo ao fim, principalmente para aqueles que optam pela exibição em 3D nas salas de cinema, o que rende momentos eufóricos durante a sessão, deslumbrando voos rasantes do grande dragão Smaug em meio à cidade de Esgaroth em chamas, além das batalhas entre os exércitos de orcs, elfos, anões, homens e águias na cidade de Valle, em frente à Montanha Solitária, rendendo, ao menos visualmente, uma ótima experiência para os fãs das adaptações para o cinema, e também para os fãs de filmes de ação e fantasia em geral. Em suma, os filmes em si obtiveram êxito em muitos aspectos, no entanto, o drama das personagens e suas raízes são desvalorizadas. Muito pouco da essência verdadeira da obra nos livros é capturado nas telas.
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Samwise e Frodo na versão cinematográfica |
Filosofia
O que fica claro nas adaptações para o cinema da obra literária de Tolkien, e que seu filho Christopher ressalta, é a leviandade que a história assume a partir de então, deixando algumas personalidades bastante inverossímeis, pois perde-se o conteúdo e a ideologia que os acompanha no decorrer da saga, e que no filme, também por questões de tempo e também comerciais, são negligenciadas, além claro de toda a poesia que acompanha a prosa do autor.
O duro destino cruel que viveram os antepassados de Aragorn, o peso que este carrega nas costas, descobrindo sua herança e descendência apenas na maioridade; os conflitos que sofre, principalmente quando após a queda de Gandalf, quando a Sociedade se separa e Boromir é morto,
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Capa da primeira edição de O Hobbit idealizada por Tolkien |
E também há ainda, além de muitos outros pontos possíveis de destaque nos livros, a bravura de Samwise Gamgee, que nos filmes se mostra um jardineiro simples e bondoso, como grande parte da população do Condado, mas que se revela um verdadeiro herói na conclusão da saga, pois mesmo que nos filmes a personagem seja encarada dessa maneira, nos livros os seus atos de bravura sobre a torre de Cirith Ungol, e além, junto do exército de orcs em Mordor, deprimentemente disfarçados, famintos e cansados, e depois na Montanha da Perdição, tudo isto no cinema não é retratado à altura, ao menos psicologicamente, da verdadeira superação em que o jovem hobbit atinge no desenrolar dos capítulos conclusivos do terceiro volume intitulado O Retorno do Rei. Uma história de superação extrema, atingida apenas e unicamente pela coragem desmedida de Sam, pois nada mais lhe restava além disso, fazendo com que a emoção, ao menos a este que vos escreve, atinja o seu auge no capítulo chamado O Campo de Cormallen, em que os hobbits, Sam e Frodo, são reverenciados na região de Ithilien pelo exército do oeste, após as semanas de recuperação depois de terem destruído finalmente o Um Anel, onde Aragorn, agora chamado rei Elessar, junto de Gandalf, Legolas, Gimli, Éomer, o príncipe Imrahil de Dol Amroth, os filhos de Elrond, os dúnedain nômades do norte, e todo o exército atrás destes, em uníssono, os reverenciam emocionados, gritando nos idiomas sindarin e quenya as seguintes palavras:
Cuio i pheriain Annan! Aglar’ni Pheriannath!
Daur a Berhael, Connin en Annûn!
Eglerio! Eglerio!
A laita te, laita te! Andave laituvalmet!
Cormacolindor, a laita tárienna!
Que na tradução significa:
Vida longa aos pequenos! Louvai-vos com grande louvor!
Louvai-vos com grande louvor, Frodo e Samwise!
Louvai-vos! Louvai-vos!
Os Portadores do Anel, louvai-vos com grande louvor!
E ainda no poema recitado por Bilbo Bolseiro em Valfenda, em meio à reunião do Conselho de Elrond, onde é formada a Sociedade do Anel, quando Aragorn é questionado por Boromir, que duvidava de sua descendência númenoriana:
Nem tudo que é ouro fulgura
Nem todo o vagante é vadio
O velho que é forte perdura
Raiz funda não sofre o frio
Das cinzas um fogo há de vir
Das sombras a luz vai jorrar
A espada há de, nova, luzir
O sem-coroa há de reinar
Fontes na internet: www.valinor.com.br, www.wikipedia.org
http://whiplash.net/materias/biografias/188914-blindguardian.html
http://rollingstone.uol.com.br/edicao/edicao-93/george-rr-martin-game-of-thrones-entrevista-rs#imagem0
Louvai-vos! Louvai-vos!
Os Portadores do Anel, louvai-vos com grande louvor!
E ainda no poema recitado por Bilbo Bolseiro em Valfenda, em meio à reunião do Conselho de Elrond, onde é formada a Sociedade do Anel, quando Aragorn é questionado por Boromir, que duvidava de sua descendência númenoriana:
Nem tudo que é ouro fulgura
Nem todo o vagante é vadio
O velho que é forte perdura
Raiz funda não sofre o frio
Das cinzas um fogo há de vir
Das sombras a luz vai jorrar
A espada há de, nova, luzir
O sem-coroa há de reinar
Fontes na internet: www.valinor.com.br, www.wikipedia.org
http://whiplash.net/materias/biografias/188914-blindguardian.html
http://rollingstone.uol.com.br/edicao/edicao-93/george-rr-martin-game-of-thrones-entrevista-rs#imagem0