O
músico pensa música quase o tempo todo, o artista é artista o tempo todo. O
ator, o poeta, o cartunista, o arquiteto, o escultor, o pintor, o bailarino o
é, os são todo o tempo, respiram a função, acordam e dormem imaginando,
aperfeiçoando, criticando e gozando a função artística. Atletas também fazem o
mesmo, sendo inclusive um significante diferencial a qualquer modalidade física
a prática meditativa, pois além do treinamento físico, tático e técnico, também
pratica-se o treinamento mental, visualizando cada
movimento, cada golpe, cada ação e reação, cada segundo de respiração e
concentração.
O
desenvolvimento intelectual, seja a prática física disciplinada, seja a
canalização de energia, é praticada por tanto tempo, por tantas culturas, de
tantas formas, milhões de formas e maneiras distintas, por gregos, por romanos,
por árabes, por chineses, por guaranis, por vikings, por celtas, por astecas,
por mongóis, por hunos, por assírios, por judeus, por incas, por botsatvas de
longínquas montanhas nevadas do Tibete, por vagabundos da capital capitalística,
por beats, por hips, por junkies, por mods, por emos, por gays, por mães
incompreendidas, por órfãos odiados, por modelos de beleza jovem, sexy e
fotogênica, mas tristes por dentro, por nerds banhados em acme que pensam e
pensam e pensam e precisam tomar uma atitude, por sangrentos seres sensíveis,
por muitos e muitos e muitos, por tantas culturas, pessoas de lugares e de
histórias diferentes, por tantos que morreram calados, sofridos e esquecidos,
por outros tantos que foram idolatrados em sua época, mas esmagados pelo sistema
sucessor, que na maioria das vezes não permite ou ensina essa capacidade de
evolução existencial, omitindo antigos ensinamentos, apagando da história
velhos aprendizados e implantando novas regras estúpidas em benefício dos que
controlam o sistema.
Mas
então, de repente, surge uma verdade, única, objetiva e cruel, verdade é que somos
propriedades do sistema, sim, sistema, estrutura, independente do nome da coisa,
pois a palavra tem apenas o dever de simbolizar uma ideia, de arte ou de
ciência, sendo ela mesma arte, porém em muitíssimos casos é inadequada,
confundida, desmembrada, distorcida, magra, fraca, não alcança a sensação, a
intenção de comunicar, não é suficiente. Apenas mestres são mestres, mestres das
palavras, estes que concentram em sua memória um apanhado, um baú, um
vocabulário violento, largo, de sua
língua pátria, pois a linguagem é uma arte riquíssima. Mas o português, especificamente
no Brasil, apanha muito, é ultrajado e molestado todos os dias, nem os
encarregados de ensinar e passar o conhecimento adiante, nem os comunicadores,
ainda mais hoje, nestes tempos modernos, tempos de linguagem internética, nem
esses profissionais manipulam e usufruem e fazem uso da língua devidamente, mas
por outro lado, isso também é rico, a linguagem é mista, desregrada, ela é e deve
seguir sendo mais viva que a colonização e exploração da gente que a manipulou,
ela tem a missão de passar adiante a mensagem que extraímos das profundezas da
memória, da consciência, por isso o apelo à licença de loucura poética, desvalorizando-a talvez, apagando seu sentido original primitivo talvez,
mas cumprindo a sua simples função de transmitir, mesmo que parcialmente, a
ideia.
Todos
somos feijões de uma vagem de uma planta para um cesto de um colhedor
funcionário da casa grande, essa é a verdade, mesmo que as palavras não a
resumam completa e definitivamente. Pensemos mais.
“O voar é para os pássaros o que o pensar
é para os homens”, Albert Einstein.
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